O Brasil tem 115 milhões de veículos, com uma vida útil média de 10 anos. Esse ciclo natural cria um mercado gigantesco de autopeças.

É aí que entram os desmanches, os estabelecimentos que desmontam veículos antigos ou danificados para revenda de peças.

O que deveria ser apenas isso – um setor de reaproveitamento – virou um canal de lavagem de dinheiro que alimenta o crime. 

Sem fiscalização, qualquer peça podia ser revendida sem que o consumidor soubesse de onde veio. Resultado? O roubo de veículos se tornou um negócio altamente lucrativo.

Com o mercado de peças usadas movimentando US$ 450 milhões por ano, São Paulo decidiu testar uma ideia simples: se a peça precisar ser rastreada, o carro roubado perde valor.

A solução: rastreabilidade e transparência. A Lei dos Desmanches, aprovada em 2014, impôs novas regras para esses estabelecimentos:

  • Registro formal com licença municipal.
  • Certidão criminal limpa dos donos e empregados.
  • Registros detalhados de todas as transações.
  • QR Code para rastrear a origem das peças.

Agora, uma pesquisa de doutorado no Insper procurou entender se a lei funcionou.

Em Dismantling a Market for Stolen Goods: Evidence from the Regulation of Junkyards in Brazil, André Mancha analisou dados de roubos entre 2011 e 2019, comparando municípios com e sem desmanches antes e depois da lei.

O resultado foi claro. Nos municípios com desmanches, o roubo de veículos caiu 4,35% por mês. Além disso, o preço do seguro caiu 7,09%. Menos roubo = menos risco para seguradoras = seguro mais barato. Simples assim.

Nos próximos dias, vou propor dois projetos de lei inspirados na experiência da lei do desmanche. 

Um vai obrigar o cadastro de ferro velhos — o que diminuirá o incentivo para o roubo de cabos e fios de cobre e coibirá os sucateiros que derretem cobre sem origem — e outro, obrigando o cadastro de revendedores de celular. 

Crime não some com discursos e frases de efeito. Ele some quando deixa de ser lucrativo. 

Essa é a diferença entre uma política pública eficiente e jogadas de marketing para iludir o eleitor desinformado. 

Leonardo Siqueira é deputado estadual pelo Partido Novo em São Paulo.