O mercado financeiro, o setor produtivo e o mundo político já aguardam ansiosamente as eleições presidenciais de 2026. Poucas vezes o processo eleitoral entrou tão cedo no radar.

Um dos principais responsáveis por este cenário é o próprio governo. Diante de enormes dificuldades de comunicação e em um embate aberto com os agentes econômicos, as expectativas se desancoraram.

Como consequência, o setor produtivo está com um péssimo humor e estímulo zero para investir. Sem um plano consistente para estabilizar a relação dívida/PIB, dificilmente chegaremos vivos a 2026 – falar em  investment grade, então, se tornou uma quimera. 

Com o desalinhamento das expectativas e o novo patamar do câmbio pressionando a inflação, o Banco Central não terá como reduzir a Selic, mesmo após a saída de Roberto Campos Neto e a entrada de Gabriel Galípolo.

Responsabilizar o mercado de forma vaga não é um plano sólido. É uma ausência de plano.

No mundo político, 2026 ainda não aparece tanto quanto nos círculos do mercado financeiro e das grandes empresas, mas as discussões começaram antes do que muitos previam.

A política brasileira é complexa, fragmentada e fortemente influenciada por dinâmicas regionais, o que dificulta a classificação dos grupos políticos em poucos blocos. Ainda assim, para fins analíticos, adotaremos essa simplificação.

O PT e a esquerda mantêm sua confiança graças a Lula. A recente internação do Presidente intensificou o debate sobre quem será o candidato do governo, mas no Palácio do Planalto a aposta continua sendo a reeleição de Lula. Sua popularidade permanece estável em um nível que lhe garante competitividade, embora alguns pontos gerem apreensão:

1. De acordo com pesquisa Quaest divulgada na semana passada, 52% dos entrevistados acreditam que Lula não deveria disputar um novo mandato.

2. Embora sua popularidade esteja estável, o índice atual de Lula, no mesmo momento do mandato, está um pouco acima dos três presidentes que não se reelegeram nem fizeram sucessor, e abaixo dos que se reelegeram ou fizeram sucessor. Pesquisa recente do DataPoder mostra um cenário de dificuldade. Em relação a janeiro, a desaprovação cresceu seis pontos, enquanto a aprovação caiu quatro.

3. O futuro é desafiador, sobretudo no campo econômico. Apesar do baixo desemprego e um crescimento bom, a percepção popular sobre a economia é negativa. A maior preocupação é a inflação, pressionada pelo câmbio agora estourado, e que só conseguirá recuar se o governo reconquistar a confiança do mercado. Não há político, por mais carismático, capaz de evitar o desgaste causado por uma inflação alta, principalmente em alimentos e energia.

4. A comunicação do governo é falha. Segundo a Quaest, 69% dos entrevistados não sabem apontar os principais acertos da atual gestão. A ideia de isentar do Imposto de Renda quem ganha até R$ 5 mil é vista no Planalto como a grande aposta para conquistar a classe média. No entanto, sua aprovação é incerta, já que o projeto ainda não foi apresentado e pairam dúvidas sobre se a compensação fiscal proposta pelo Ministério da Fazenda será suficiente.

5. A rejeição ao PT e a Lula é significativa e quase custou a eleição de 2022, quando ele venceu por uma margem mínima, apesar do caos na campanha de Jair Bolsonaro. O mundo político vem punindo os governantes em exercício, e a eleição de 2026 torna-se extremamente arriscada para Lula se ele chegar ao segundo turno com uma rejeição maior que a de 2022, independentemente do adversário. Obviamente, o PT prefere enfrentar um candidato mais agressivo e ruidoso, apostando que a rejeição ao oponente supere a própria.

O Centrão aguarda o cenário se definir, tentando entender quem se candidatará e quem terá chances reais. Diferentemente do passado, quando costumava atuar em poucos ou mesmo em um só bloco, o Centrão hoje é mais fragmentado. 

Dividido por questões regionais, os partidos desse grupo provavelmente decidirão seu rumo perto da eleição, podendo até apoiar candidatos diferentes em diferentes regiões. Mesmo que surjam alianças formais, a tendência é que sua presença regional mantenha-se dispersa e independente.

No passado, aderir precocemente a uma chapa com potencial de vitória garantia dividendos políticos significativos. Hoje, porém, o Centrão conhece bem sua própria força. Com a atual configuração institucional, em que o Congresso (logo, o Centrão) detém o poder, não há pressa em antecipar apoios a qualquer candidatura. 

A esquerda e o governo precisam de um plano sólido, sobretudo na área econômica, com medidas que gerem confiança ao investidor, produzam resultados concretos e apresentem narrativas consistentes; já a centro-direita necessita de um nome realmente viável. Ao fim, todos dependem de um denominador comum: lançar um candidato com menor rejeição que o adversário.

Diante desse quadro de incerteza máxima e credibilidade em xeque, quais são os possíveis caminhos? Há diversos cenários, cada um com suas bifurcações e consequências.

Cenário 1: Lula dobra a aposta, amplia gastos e aprofunda a crise fiscal e de credibilidade. Considero essa hipótese pouco provável. Embora o Congresso não tome a frente na resolução dos problemas fiscais, dificilmente será cúmplice de uma destruição generalizada. Novas medidas populistas encontram obstáculos – primeiro, porque o Centrão ainda não escolheu de que lado estará em 2026 e, portanto, não quer entregar benesses sem garantia de retorno político; segundo, porque eventuais gastos adicionais precisam ser compensados, e o Congresso dificilmente aceitará novos impostos, principalmente os chamados “horizontais”, que afetam todo o setor produtivo, como a CSLL. 

Além disso, os prováveis próximos presidentes da Câmara e do Senado, Hugo Motta (Republicanos/PB) e Davi Alcolumbre (União Brasil/AP), mostram-se contrários ao aumento de tributos.

Neste contexto, insere-se também a proposta de isenção do Imposto de Renda para salários até R$ 5.000, que ainda não foi enviada ao Congresso. A ideia previa taxar, além do IR, quem recebe acima de R$ 50.000 mensais, incluindo lucros e dividendos. Ainda assim, vejo o Congresso — especialmente o Senado — bastante reticente em avançar nesse tema.

Cenário 2: O Congresso assume o protagonismo e conduz um turnaround fiscal. Embora improvável, é um caminho a observar. É pouco provável que o Parlamento tome a iniciativa de propor e aprovar medidas fiscais que incluam novos gatilhos de gasto ou tetos para áreas sensíveis, como saúde e educação — ações esperadas do Executivo. O Legislativo aceita ser coadjuvante em ajustes mais duros, mas não o ator principal. Uma exceção, dependendo do contexto, poderia ser a retomada da reforma administrativa.

Cenário 3: O Governo muda de postura e conquista credibilidade por meio de uma nova política fiscal. É  pouco provável que Lula promova uma ruptura total na atual condução econômica. No entanto, o Presidente sabe que dois anos com o dólar a R$ 6 e a Selic na faixa de 12% a 13% — ou até mais elevada — teriam um impacto fatal em seu projeto de reeleição ou na eleição de um sucessor.

Cenário 4: A realidade tende a ser uma combinação dos cenários anteriores. O Congresso não aprovará novos impostos, frustrando a estratégia inicial de Haddad de ajustar as contas pelo lado da receita, nem será o protagonista de um grande ajuste fiscal. Além disso, não adotará medidas populares ou populistas sem a devida compensação fiscal. Lula sabe que a inflação é um inimigo mortal de qualquer Presidente. Caso o quadro fiscal e cambial se mantenha ou piore, é provável que, já no início de 2025, novas medidas de corte de gastos sejam apresentadas. Ainda assim, Haddad e Lula aguardarão para avaliar o efeito das ações em curso e sua repercussão no mercado. A tendência é que essas medidas sejam aprovadas sem grandes desidratações.

O governo seguirá “trocando a roda com o carro em movimento,” ajustando a rota conforme a reação do mercado. A intensidade das mudanças dependerá, em última instância, de como o mercado se comportar.

Lucas de Aragão é sócio da Arko Advice.