A Onze — uma fintech focada em previdência privada corporativa — acaba de levantar uma rodada para crescer num mercado de mais de R$ 650 bilhões que ainda é dominado pelos grandes bancos.
A Série A — de US$ 20 milhões (R$ 120 milhões no câmbio Lula) — foi liderada pela Ribbit Capital, que já era investidora da Onze, e teve a participação da Atlântico e da Red Ventures.
A Ribbit é um dos principais fundos de fintech do mundo, e já investiu em empresas brasileiras como o Nubank, Quinto Andar e Conta Azul.
Fundada em 2019, a Onze já atende 221 empresas — incluindo gigantes como a Dell Brasil, TIM e OLX — e tem R$ 4 bilhões em ativos.
O fundador Antonio Rocha estima que a startup vai chegar ao breakeven em cerca de dois anos. “Esperamos que essa rodada já seja suficiente para levar a gente até a lucratividade,” ele disse ao Brazil Journal.
Essa é a segunda rodada institucional da Onze, que havia levantado outros US$ 10 milhões em 2021, também com a Ribbit.
Antonio fundou a Onze junto com Rodrigo Neves, com quem trabalhou por anos na McKinsey. Para criar a empresa, os dois conseguiram o funding inicial da Red Ventures, uma empresa americana que investe e cria negócios do zero e ainda é o maior acionista da startup.
A ideia dos fundadores era tentar reinventar a previdência corporativa no Brasil, que eles achavam parada no tempo.
“É um mercado que ainda hoje é dominado pelos bancões, que têm mais de 95% de share, e que tem uma experiência ruim e um engajamento baixo dos colaboradores,” disse Antonio. “Ao mesmo tempo, é um mercado que tem tudo para crescer, porque é um no-brainer para os funcionários. Como a empresa coloca o dinheiro junto com ele, não tem porque não aplicar.”
Segundo ele, enquanto nos Estados Unidos mais da metade das empresas oferece a previdência como um benefício aos funcionários, no Brasil esse número não passa de 5%.
A Onze atua como uma corretora de previdência, vendendo os planos de seguradoras parceiras e ganhando uma comissão por isso (uma parte da taxa de administração dos fundos).
“Temos uma parceria muito forte com as seguradoras e, para o colaborador, atuamos quase como se estivéssemos operando junto com a seguradora,” disse Antonio. “Somos nós que fazemos todo o atendimento do colaborador e do RH.”
Segundo o fundador, antes da Onze o RH das empresas tinha que enviar um formulário para um novo colaborador aderir à previdência. No documento, ele escolhia o plano que queria (VGBL ou PGBL), assinava e mandava para a seguradora.
“Levava semanas para cada nova adesão. E quem aderia só ia receber a primeira contribuição em dois meses. Depois disso, o colaborador não conseguia ver o saldo e entender o que estava acontecendo com o fundo. Era tudo muito complicado,” disse o fundador, acrescentando que havia ainda um risco para o RH, que podia cometer algum erro ao descontar o valor do salário do colaborador e fazer o match.
“No nosso sistema, a pessoa baixa o aplicativo, faz a adesão em minutos e depois consegue acompanhar o saldo e fazer tudo pelo app. Se ela quiser alterar o valor da contribuição ou pedir o resgate, ela faz tudo por lá,” disse Antonio.
A Onze acaba com o risco de erro no RH, já que a própria startup faz o desconto da folha.
Além da previdência, que responde por 80% da receita, a Onze entrou recentemente em dois novos negócios.
O primeiro é uma solução de saúde financeira que oferece consultoria para os funcionários das empresas, ajudando tanto com dúvidas sobre investimentos quanto negociações de dívidas.
“Culturalmente as pessoas não têm a quem recorrer para falar das finanças. Queremos ser esse canal de confiança,” disse Rodrigo.
Para ter acesso a essa solução, as empresas pagam um fee de serviço que varia pelo número de funcionários cobertos.
A segunda solução é um empréstimo usando os recursos da previdência como garantia. Rodrigo diz que muitas vezes o funcionário não quer resgatar da previdência porque tem uma penalidade da empresa ou porque pagaria um imposto alto. “Então damos essa opção de pegar o crédito com a gente e deixar o saldo bloqueado.”
Por enquanto, a Onze tem feito esses empréstimos com capital próprio, mas já está estruturando um FIDC para escalar a operação.
Apesar do crescimento desses novos negócios, a expectativa é que a previdência sempre tenha uma relevância maior no bolo. “A beleza do negócio de previdência é que ele tem um crescimento contratado pelas contribuições mensais e pelo rendimento das aplicações,” disse Antonio.