Nas últimas décadas, as fintechs decolaram. Com propostas de valor centradas no cliente, modelos ágeis e produtos aderentes, elas caíram no gosto de uma população cada vez mais digitalizada e investidores ávidos por crescimento.

Mas, após anos de hipercrescimento, as fintechs entram agora em uma nova era de criação de valor.

Na esteira do que acontece no ecossistema de inovação como um todo, a ordem do momento é o crescimento sustentável. E, com o plano de voo ajustado, elas podem crescer anualmente 15% até 2028 em todo o mundo.

É o que mostra a nova pesquisa global da McKinsey realizada com mais de 100 executivos, fundadores, investidores e lideranças seniores do ecossistema. Os dados apontam que, embora haja turbulência, é possível encontrar um céu (quase) de brigadeiro.

Rota requer atenção redobrada

De 2019 a 2023, as fintechs de capital aberto de todo o mundo quase dobraram sua capitalização de mercado ao alcançar US$ 550 bilhões. No mesmo período, o número de unicórnios do setor saltou de 39 para 272, com uma avaliação combinada de US$ 936 bilhões.

Em 2022, porém, os investimentos foram reduzidos. O tempo entre as rodadas de captação aumentou em mais de cinco meses e o valor médio do cheque caiu 50%. Aquelas em fase de crescimento (series C+) foram as mais afetadas; as em fases iniciais de desenvolvimento (seed e pre-seed) conseguiram ser mais resilientes, aumentando o investimento captado em 26%.

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Excelentes voos até 2028

As boas notícias: a pesquisa mostra que a receita das fintechs deverá crescer quase três vezes mais do que a dos incumbentes até 2028. Em comparação com o crescimento anual de 6% da receita do setor bancário tradicional, as jovens empresas financeiras nativas digitais podem alcançar um ganho de 15% nos próximos cinco anos em todo o mundo.

Especialmente nas economias em desenvolvimento como a do Brasil, elas continuarão a se beneficiar da transformação radical do setor bancário, da rápida adoção digital e do crescimento do consumo online.

Caminhos para o crescimento sustentável

Em um ambiente com restrições de liquidez, a sustentabilidade do negócio passa a ser o foco de empreendedores e investidores. Três rotas são possíveis para aterrissar no destino com sucesso:

1. Disciplina de custos

O diferencial das fintechs lucrativas foi a redução de despesas, não o crescimento de receitas. Para isso, 80% das empresas entrevistadas estão fazendo alterações nos seus modelos operacionais e procurando enxugar o custo de servir.

Outro foco importante é no cálculo preciso do unit economics (economia unitária do cliente). Isso inclui, por exemplo, a busca de máxima eficiência na razão entre o ciclo de vida do cliente (Life Time Value) e o custo de aquisição deste (Customer Aquisition Cost).

Na América Latina, 68% das fintechs reportaram um LTV/CAC superior a cinco.

2. Crescimento mensurável

O executivo de uma fintech da América Latina sintetiza: “No passado, muitas empresas expandiram geograficamente, mesmo que isso não fizesse muito sentido. Agora elas terão que se concentrar em segmentos e geografias lucrativas e parar de expandir para onde não há oportunidade.”

Fazer isso plataformizando produtos — ou seja, permitindo que eles sejam tecnologicamente reutilizáveis e ajustáveis a diferentes necessidades de cada mercado — também é fundamental.

3. Fusões e aquisições programáticas

Muitas dessas organizações irão conseguir sucesso mais rapidamente por meio de aquisições e parcerias – quase 60% dos executivos ouvidos na pesquisa disseram considerar uma aquisição nos próximos 18 meses.

Dada a atmosfera desafiadora, as decisões pelas rotas tomadas hoje provavelmente definirão qual será a altura do voo das fintechs no médio e longo prazo. Cabe aos comandantes garantirem combustível para uma jornada longa.

Acesse a pesquisa completa e saiba mais sobre as perspectivas de crescimento das fintechs em todo o mundo.

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Marina Mansur é sócia da McKinsey em São Paulo e líder de Leap by McKinsey – digital business building, no Brasil.

Roberto Marchi é sócio sênior da McKinsey em São Paulo, líder de serviços financeiros no Brasil e um dos líderes de Digital na América Latina.

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