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Pepe Cafferata e Yran Dias*
Um foguete atravessando com sucesso a atmosfera. Essa é a imagem que melhor representa a rapidez com que a inteligência artificial generativa (Gen AI) vem se propagando. O uso da tecnologia nas empresas quase dobrou nos últimos dez meses, com dois terços dos executivos relatando uso regular em pelo menos uma função de negócio nas suas organizações. Os dados são da mais recente pesquisa da McKinsey, que faz um raio-x anual do uso da IA no mundo. Mas, o estudo também aponta que nem todos já estão capturando valor.
Se 2023 marcou a descoberta da Gen AI, 2024 é o ano em que as empresas começaram a usá-la. Enquanto a maioria ainda está no início da sua jornada, testando a tecnologia em diferentes áreas, uma seleta liga com alto desempenho começa, de fato, a escalar o impacto e transformá-lo em ganhos. Cerca de 5% das companhias pesquisadas que afirmam usar a Gen AI em seus negócios já atribuem mais de 10% do seu EBIT à utilização eficaz dos modelos.
Parte do segredo está no uso focado em áreas de maior potencial, na adaptação das soluções para os dados e processos das empresas e na gestão proativa do risco desde o início do desenvolvimento. Os resultados da pesquisa servem de exemplo para quem está em busca de um bom plano de voo – aquele que cria valor muito além do hype.
Começando certo
Plano de implementação e buy-in da liderança são duas das premissas de sucesso de qualquer transformação digital. E as empresas de alto desempenho seguem bem a rota: 59% dizem possuir um roadmap robusto de implementação da Gen AI pautado pela criação de valor e viabilidade – mais que o dobro da média das empresas pesquisadas.
Além disso, 64% delas afirmam que as lideranças seniores de suas companhias entendem como a tecnologia pode impactar o negócio, ante 39% do total das companhias pesquisadas.
Dois é bom, três é melhor
De forma geral, as empresas têm aplicado a IA generativa sobretudo em marketing, vendas e desenvolvimento de produtos e serviços – essas áreas, somadas à engenharia de software e P&D, representam o maior potencial de geração de valor da Gen AI, segundo pesquisas prévias da McKinsey.
No entanto, ao passo que as organizações entrevistadas aplicam a tecnologia em duas funções de negócio em média, as líderes o fazem em pelo menos três. Nelas, a tecnologia também já é usada com frequência nas áreas como jurídica, financeira e supply chain.
Take, shape or make
A maioria das empresas opta hoje por soluções já prontas, de prateleira – o que chamamos de arquétipo takers. Já as de alto desempenho tendem a ir além, com estratégias de shapers ou makers. Ou seja, elas customizam modelos existentes – ou eventualmente desenvolvem os seus próprios – para adequá-los a domínios e negócios com oportunidades de gerar vantagem competitiva.
Essas abordagens garantem a captura de valor pelo uso regular dos dados proprietários e uma integração eficaz com os processos e sistemas internos, tornando a tecnologia mais alinhada aos objetivos estratégicos da companhia. No início de uma revolução digital, é natural que muitas organizações optem por soluções amplamente acessíveis. Mas a diferenciação estará cada vez mais na capacidade de customizar e até desenvolver.
Atenção: risco à frente
Provavelmente por estarem há mais tempo na jornada da inteligência artificial, as empresas de alto desempenho reconhecem todas as potenciais consequências negativas da Gen AI listadas pela pesquisa, como imprecisão, infração à propriedade intelectual e cibersegurança.
Uma diferença substancial é que elas estão se movimentando proativamente para lidar com esses riscos. Por exemplo, 44% das companhias de alto desempenho incorporam estratégias de mitigação de riscos desde o início do desenvolvimento de soluções de Gen AI, em comparação aos 23% da amostragem geral.
Aprendendo com as turbulências
O grupo das empresas líderes também enfrenta outros desafios que podem servir de farol. Setenta por cento apontam obstáculos consideráveis com gestão de dados, incluindo quantidade insuficiente de informações para treinar modelos, falta de processos para governança dessas informações e dificuldade de integração rápida dos dados aos modelos de IA.
Outras barreiras comuns estão ligadas à gestão de mudanças organizacionais com impacto direto em processos, comportamentos e mentalidades. Isso inclui, por exemplo, a implementação de um modelo operacional que privilegie formas ágeis de trabalho e estratégias de adoção das novas soluções por toda a companhia.
Lições para o voo
Esses e outros resultados da pesquisa, aliados à nossa experiência com transformações digitais, apontam em uma única direção: não é apenas sobre tecnologia.
Os modelos de IA generativa compreendem apenas 15% de qualquer solução. Para criar valor, as organizações devem se preocupar em ter todos os elementos in place. Só assim serão capazes de destravar o impacto da Gen AI e passar, de fato, da experimentação à escala, com o retorno financeiro esperado – uma verdadeira missão de sucesso.
Acesse a íntegra da pesquisa State of AI 2024 da McKinsey e saiba mais sobre o crescimento da adoção de Gen AI no mundo.
*Pepe Cafferata é sócio sênior e líder na América Latina da QuantumBlack, AI by McKinsey.
*Yran Dias é sócio sênior e líder da McKinsey Digital na América Latina.