A Omie acaba de levantar R$ 580 milhões numa rodada pré-IPO que vai financiar o plano de expansão da startup de software de gestão (ERP), incluindo o crescimento em serviços financeiros e M&As estratégicos.

A rodada Série C foi liderada pelo Softbank e teve a participação de um pool de gestoras com foco em public equities: Dynamo, VELT Partners, Bogari, Hix e Brasil Capital. 

A Endeavor Catalyst e o Riverwood — que liderou o Série B da Omie — também acompanharam. 

11608 4365c4d1 eab8 605d 7d1c 317fef7fa769“Normalmente, as empresas fazem rodadas indo atrás de capital e expertise. A gente está indo atrás de capital, expertise e de contar uma história para o mercado,” o CEO Marcelo Lombardo disse ao Brazil Journal.

Segundo ele, a Omie tem planos de fazer um IPO nos Estados Unidos nos próximos anos depois “que crescer mais um pouco e ganhar mercado em empresas médias.”

Marcelo não abriu o faturamento da empresa, mas disse que a Omie já teria “tranquilamente” tamanho para um IPO no Brasil, considerando a receita das empresas de tech que vieram ao mercado recentemente. 

O investimento vem num momento em que a Omie teve que rever sua estratégia comercial. Durante a pandemia, as vendas para PMEs — seu foco inicial — estagnaram, e a startup começou a focar seus esforços em empresas do middle market (com faturamento anual de entre R$ 10 milhões a R$ 200 milhões). 

Agora, mais de 30% da receita da Omie já vem desse perfil de cliente. 

A Omie tem atacado companhias que até agora eram clientes das soluções da Totvs, Linx e SAP. O pitch começa com o bolso — em alguns casos, o software da Omie é 90% mais barato — mas vai além. 

“Aprendemos que ninguém troca o software só por redução de custo. A economia faz eles  ficarem interessados, mas o que convence é a simplicidade e todas as automações que o nosso software traz,” disse o fundador. “Nosso software não é monolítico, fechado no servidor da empresa, ele está conectado com todo o ecossistema do cliente, com inúmeras integrações.”

O dinheiro da rodada vai ser usado em três frentes. 

A primeira é expandir o esforço comercial: triplicando a equipe interna de vendas e dobrando a rede de franquias — que passará de 80 unidades espalhadas pelo Brasil para 160 no próximo ano. 

A Omie desenvolveu um modelo comercial em que os franqueados fecham parceria com contadores, que disponibilizam sua carteira de clientes em troca de uma comissão da mensalidade. 

Segundo Marcelo, o plano é fechar o ano com 100 mil clientes — em comparação a 70 mil agora — e bater 1 milhão nos próximos anos. As assinaturas vão de R$ 50 a R$ 2.000 por mês, e o tíquete médio gira em torno de R$ 300.  

A Omie também quer fazer M&As estratégicos de soluções “que complementem a jornada do cliente ou o produto,” por exemplo em analytics.

Finalmente, a rodada permitirá à companhia crescer em serviços financeiros. Hoje, o software da Omie já oferece uma conta digital, além de produtos de crédito como antecipação de recebíveis, empréstimo parcelado e empréstimo com garantia de imóveis — num modelo em que a Omie ganha um take rate pelas vendas. 

A ideia é ampliar esta oferta de produtos e entrar também em pagamentos. 

“As mudanças que o BC tem feito causam uma transferência de poder das empresas de payment para as de software. O cliente pode pagar com um QR Code direto no software de ERP, e o dinheiro já cai na conta do lojista, tirando todo mundo da jogada,” disse o CEO.

Segundo ele, a Omie ainda está definindo se fará esse movimento com uma aquisição ou desenvolvendo uma solução do zero — usando, por exemplo, a infraestrutura de uma empresa de banking as a service. 

O que está claro para ele é que há uma complementaridade óbvia entre os dois segmentos.

Enquanto os serviços financeiros tem um crescimento muito rápido (porque é um produto simples), mas uma receita com uma qualidade pior e uma fidelidade baixa, com os softwares é o oposto — o crescimento é lento, mas a receita é recorrente e há uma fidelidade grande dos clientes. 

“Se você consegue unir esses dois mundos e criar uma jornada só, onde você combina a velocidade de crescimento dos serviços financeiros com a qualidade da receita do software, você chega no sweet spot dos múltiplos,” disse Marcelo.