Fundos internacionais acionistas da Oi — alguns deles enormes e especializados em litígios societários — passaram a quarta-feira em conversas.
Eles estão se articulando para tentar rever as condições da fusão entre a Oi e a Portugal Telecom (PT) depois que se decobriu que a PT investiu quase 900 milhões de euros numa empresa de crédito duvidoso do Grupo Espírito Santo sem dar publicidade ao investimento no prospecto da controversa oferta de ações da Oi, em abril.
Como a fusão da Oi com a PT ainda está no meio do caminho — com o fechamento da operação previsto para outubro — os fundos estudam a melhor forma de intervir no processo para mudar o resultado final.
“Se a Portugal Telecom perdeu dinheiro, é apenas justo que eles fiquem com uma fatia menor da Oi do que o combinado,” diz um analista de um destes fundos. “Se perderam 500 milhões, deveriam ficar com 500 milhões a menos. É o justo.”
Na fusão, os ativos da PT foram avaliados em 1,75 bilhões de euros (5,7 bilhões de reais). Se os fundos tomarem alguma medida, eles têm a prerrogativa de acionar a Oi e a PT nos EUA, já que a oferta de ações foi registrada tanto no Brasil quanto na Securities and Exchange Commission (SEC). Desde o fim da semana passada, a Oi já perdeu, em valor de mercado, mais do que o valor do investimento no Espírito Santo.
Os antigos controladores da Oi, os grupos Jereissati e Andrade Gutierrez, já foram “salvos” pelo aumento de capital da empresa, que saldou as dívidas de sua holding com os recursos levantados na oferta. Mas só em outubro haverá a junção das bases acionárias das duas empresas.
O investimento na Rio Forte, a empresa do Grupo Espírito Santo, foi aprovado pelo comitê executivo da PT mas não passou por seu conselho de administração, levantando dúvidas sérias sobre a governança da PT e a honestidade da empresa, já que o investimento foi feito durante o processo de fusão com a Oi.
Ontem à noite, a administração da Oi procurou se distanciar do escândalo, emitindo um Fato Relevante em que se mostra surpresa com a notícia do investimento.
Na terça-feira, os representantes da Andrade e do Grupo Jereissati renunciaram ao conselho da PT, também alegando ignorar a operação.
“Depois de ferrar os minoritários na oferta, talvez tenha chegado a hora dos antigos controladores ferrar os portugueses,” diz um gestor que acompanha o assunto de perto. “Talvez eles encontrem uma forma de reverter a operação e tomar de volta o controle da empresa.”
A notícia do investimento está levando o mercado a fazer uma série de especulações: quem na PT decidiu o investimento? Como é possível que os ex-controladores da Oi não soubessem do assunto? O governo português organizará uma operação de salvamento do Grupo Espírito Santo para evitar que o escândalo comprometa fatalmente a reputação de todos os envolvidos?
Por enquanto, a única coisa certa é o seguinte: pela primeira vez na longa e conflituosa história de conflitos da Oi com o mercado de capitais, os grupos Andrade e Jereissati sentem na pele o que é ser minoritário de um controlador com agenda própria.