A Odebrecht Engenharia e Construção (OEC) está protocolando hoje um pedido de recuperação judicial — tentando reestruturar uma dívida pesada de US$ 4,6 bilhões. 

Como parte do processo, a OEC levantou US$ 120 milhões (R$ 650 mi ao câmbio de hoje) por meio de um DIP, que será usado para pagar parte das dívidas e reforçar seu caixa. Esse tipo de empréstimo garante a preferência no recebimento dentro do processo de RJ. 

A companhia não divulgou quem é o investidor por trás do DIP, mas a especulação no mercado é de que seja o BTG Pactual. 

Praticamente toda a dívida da OEC hoje é de bonds que foram emitidos entre 2004 e 2014 e que a companhia herdou do processo de recuperação judicial da Novonor, a holding que controla a construtora. 

Quando a Novonor entrou em RJ, em 2019, a companhia acordou com seus credores que parte dos bonds que estavam na holding (cerca de US$ 2 bi) desceriam para a OEC, enquanto outra parte (mais US$ 2 bi) ficariam numa holding intermediária entre a OEC e a Novonor. 

Os US$ 600 milhões restantes são de passivos operacionais — por exemplo, dívidas com fornecedores.

Os bonds já tinham sido renegociados pela OEC em 2020, quando a construtora entrou num processo de recuperação extrajudicial, o que garantiu um período de carência de 4,5 anos para o pagamento do principal. O primeiro vencimento ocorreria em outubro deste ano, no valor de US$ 46 milhões. 

Esses bonds negociam hoje a uma fração de seu valor de face, com os US$ 4 bi valendo perto de US$ 100 milhões em market value

O acordo que a OEC está costurando com os credores permitiria pagar toda essa dívida — limpando o balanço da companhia, cuja única dívida restante seriam os US$ 120 mi do DIP.

“Nosso objetivo é deixar a companhia com um endividamento condizente com a capacidade de geração de caixa do negócio,” o CFO Lucas Cive disse ao Brazil Journal.

Hoje, a alavancagem da companhia é de mais de 20x EBITDA. Se ela ficar apenas com os US$ 120 milhões do DIP, essa alavancagem cairia para menos de 2x, considerando um EBITDA de cerca de US$ 80 milhões/ano.

A OEC tem 60 dias para apresentar seu plano de recuperação judicial, que depois terá que ser votado em assembleia pelos credores. 

Os bonds da OEC estão nas mãos de fundos americanos (o maior deles é o Gramercy Funds Management), de private bankings europeus e, uma parte menor, no mercado asiático. 

Lucas disse que a companhia já mantém conversas desde o início do ano passado com os principais bondholders — e que uma parcela “relevante” deles já está de acordo com o plano que está sendo desenhado.

A RJ vem num momento em que a OEC tem obtido melhorias operacionais relevantes. Depois de alguns anos de retração no seu backlog, a companhia conseguiu voltar a crescer em 2022 e 2023. Hoje, a companhia tem US$ 4,6 bilhões em contratos já assinados, dos quais US$ 1,6 bi foram conquistados este ano.

A expectativa é fechar o ano com um backlog de US$ 5 bi.  

No ano passado, a OEC fez uma receita de cerca de US$ 800 milhões, mas teve um prejuízo de mais de R$ 700 milhões. 

“O grande problema da OEC é a estrutura de capital. Sempre temos dificuldades de convencer os clientes e parceiros dado o tamanho da nossa alavancagem,” disse Lucas. “Nossa crença é que ajustando a dívida, passamos a ter uma companhia que pode abraçar muito mais projetos do que temos abraçado hoje.”

Hoje, a OEC tem 31 obras em andamento, 21 no Brasil e 10 no exterior. 

A companhia está sendo assessorada pelo Lazard, Cleary Gottlieb, E. Munhoz Advogados, RK Partners e Stocche Forbes Advogados.