Roberto Attuch — um veterano do antigo Banco Garantia com mais de 20 anos na área de pesquisa de ações em bancos estrangeiros — está lançando a InvestMind, o primeiro marketplace de research da América Latina, uma espécie de Uber de CFAs.
Analistas poderão se cadastrar na plataforma para oferecer relatórios e serviços de forma independente — e ser remunerados pela qualidade. O analista escolhe o que vai cobrir e o cliente decide o que quer comprar por meio de planos personalizados e uma assinatura mensal. A InvestMind faz a curadoria, aprovando ou rejeitando os analistas interessados e monitorando a qualidade do conteúdo.
Com uma mão de obra abundante — os inúmeros profissionais que deixaram os grandes bancos com o encolhimento das áreas de research — a plataforma será lançada nas próximas semanas com cerca de 35 analistas na base, alguns deles com décadas de experiência e já ranqueados na Institutional Investor, uma espécie de Oscar dos analistas.
Os planos são ambiciosos: a InvestMind quer chegar a toda América Latina até o fim de 2018 e a Europa e Estados Unidos já no próximo ano.
“Do ponto de vista do colaborador, queremos monetizar todo tipo de conteúdo que faça sentido para o mercado financeiro,” diz Attuch. “Do ponto de vista do cliente, é a garantia de um conteúdo de qualidade e sem conflitos de interesse.”
Attuch começou a carreira no Garantia no começo dos anos 90 e foi alçado a chefe da área de research depois que o banco foi incorporado pelo Credit Suisse. Foi eleito por sete anos como primeiro ou segundo melhor analista de bancos pela Institutional Investor. Saiu do CS em 2009 para estruturar a área de equity research do Barclays, onde ficou até 2014, pouco antes da equipe ser desmontada no Brasil.
Ao contrário de casas de análise independentes como Empiricus, Eleven, Suno e Levante, o foco inicial da InvestMind não são as pessoas físicas que estão começando a investir em Bolsa, mas sim o exército de gestoras pequenas e médias que são negligenciadas pelos grandes bancos — e que estão à míngua de informação desde que casas como Votorantim, BES e Fator fecharam suas áreas de análise. A InvestMind já está em conversas com cinco corretoras para oferecer seu conteúdo.
A remuneração dos analistas é definida por um algoritmo que pondera critérios como frequência de produção, audiência de cada relatório e notas de qualidade dadas pelos assinantes. Cerca de 50% da receita das assinaturas vão para os analistas, e o restante fica com a empresa.
Além de distribuir os relatórios, a InvestMind vai oferecer aos analistas toda a estrutura para a produção de conteúdo, incluindo séries históricas de dados (por meio de uma parceria com a Quantum), um chat para que os analistas se comuniquem, e um agregador de notícias para cada área de cobertura.
Attuch contratou o Pinheiro Neto como assessor legal do projeto, e os analistas terão que declarar seus conflitos de interesse.
Além do seu produto ‘de prateleira’, no qual os analistas fazem recomendações de compra e venda para ações, renda fixa, fundos imobiliários ou outros ativos, a InvestMind também oferecerá um produto ainda raro no Brasil: a pesquisa ‘bespoke’, feita sob medida.
Nessa modalidade, os analistas não precisam ter CNPI, o certificado que permite recomendar valores mobiliários. Na verdade, podem ser experts em qualquer área que agregue valor ao processo de decisão de investimento.
“Hoje, 80% do conhecimento que é gerado no mercado financeiro no Brasil provavelmente está num raio de 500 metros da Faria Lima. É gente que estudou em lugares parecidos, almoça nos mesmos lugares, vai na mesma praia no fim de semana”, diz Attuch. “O buyside grande não quer recomendação de compra ou venda, quer ‘industry knowledge’ e conteúdo fora da caixa.”
O mercado de research customizado está nadando de braçada na Europa desde que começaram a valer as regras do MiFid II, que determina que as corretoras cobrem separadamente pela execução das ordens e pelo research — rompendo com o modelo histórico em que a corretagem financiava indiretamente os departamentos de pesquisa.
Na esteira da regra, mais de uma dúzia de marketplaces de research surgiram nos últimos anos, oferecendo uma curadoria à la Netflix dos melhores relatórios disponíveis. A RSRCH Exchange, que foi fundada por uma ex-broker de commodities da Goldman e da Merrill, já atende a mais de 1.000 gestoras e foi considerada uma das fintechs mais promissoras da Europa pelo Financial Times.
“O MiFid ainda não chegou aqui, mas é questão de tempo”, diz Attuch. “E as mudanças de regras lá fora já estão fazendo todo mundo perceber o valor da diferenciação.”
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