O Brasil tem tarifa de energia cara, incidência solar alta em todo o território nacional e mão de obra barata. 

11086 2c4d099f 6248 0438 2ce5 dd78148cbf5fEm meio a essa contradição, Fábio Carrara enxergou uma oportunidade: financiar placas solares residenciais. 

Em 2018, ele fundou a Solfácil, que já financiou mais de mil clientes e tem uma carteira de crédito de R$ 50 milhões. A expectativa é chegar a R$ 350 milhões daqui a um ano com o lançamento de novos produtos.

Agora, a startup acaba de levantar R$ 21 milhões numa rodada Série A liderada pela Valor Capital, a gestora de Scott e Clifford Sobel que já investiu em empresas como Stone, Gympass e Loft.

A rodada também teve a participação de alguns investidores-anjo como os fundadores da Distrito, um hub de inovação. 

Um dos atrativos da Solfácil é que ela oferece prazos mais longos (de até 120 meses, frente a no máximo 60 meses dos bancões), o que permite que o consumidor tenha uma economia imediata — já que o valor da parcela do empréstimo geralmente é menor do que a economia que ele tem na conta de luz. 

A startup cobra uma taxa média de 1,2% ao mês, em linha com o praticado pelos bancos.

“Mas como nossa linha é bem nichada, conseguimos ter um processo mais rápido e menos burocrático: só pedimos informações que fazem sentido pra este tipo de financiamento,” Carrara disse ao Brazil Journal. “Além disso, temos uma capacidade melhor de avaliação de risco, porque entendemos que o maior risco está no projeto e não no cliente.”

A estratégia tem dado certo. Carrara diz que a Solfácil ainda não teve nenhum default, não tem nenhum atraso acima de 90 dias, e os atrasos acima de 60 dias são menos de 1% da carteira.

Os recursos da rodada serão usados para expandir a área comercial, investir em tecnologia e lançar duas novas linhas de crédito: uma para pessoa jurídica, e outra para antecipar os recebíveis das integradoras (as companhias que fazem o projeto e a instalação dos painéis e são a principal fonte de captação de clientes da fintech). 

Sempre que vendem um projeto, essas integradoras parcelam o pagamento em alguns meses; agora, a Solfácil vai começar a antecipar esses recebíveis.

A Solfácil financia a operação de crédito com debêntures e FIDCs captados no mercado. Como a fintech vende as cotas sênior e fica com as subordinadas  (normalmente 5% do total), ela precisa de capital para fazer a engrenagem rodar. Nos próximos meses, uma nova debênture de R$ 150 milhões e um FIDC de R$ 50 milhões virão a mercado.  

Até agora, a startup fez duas emissões de debêntures captadas apenas com investidores institucionais: uma de R$ 18 milhões no ano passado, e outra de R$ 120 milhões em janeiro.

A Solfácil ganha dinheiro de três formas: recebe um fee de originação pago pelos clientes; um fee pela gestão da carteira, pago pelos debenturistas ou pelo FIDC; e a rentabilidade das cotas subordinadas. 

Carrara, um ex-consultor da BCG, se apaixonou pela energia solar quando trabalhava num fundo de venture capital alemão. Na época, começou a olhar empresas do setor e decidiu fundar uma integradora em 2015. Depois de alguns anos, percebeu que o calcanhar de Aquiles nesse mercado era o crédito e fundou a Solfácil.

“Quase 90% dos brasileiros dizem que querem colocar energia solar em suas casas, mas o problema é que eles não têm poupança para fazer esse investimento,” diz ele.

O resultado: apenas 0,3% das unidades consumidoras (casas e comércios) são abastecidos com placas solares no Brasil. Nos Estados Unidos, esse índice é de cerca de 3%. 

Carrara aposta que esse gap vai fechar nos próximos anos, até porque o retorno desse investimento no Brasil é sensivelmente maior que nos EUA, já que o País reúne três características benéficas para o setor: a incidência de sol é alta; o custo da mão de obra é mais barato; e a tarifa de energia é cara. 

“Nos EUA, o retorno desse investimento é em média de 8% ao ano. No Brasil, é de 30%, mas pode chegar até a 50% em alguns casos. Normalmente, em três anos o investimento já se paga.”

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