Em seus mais de 1,3 mil restaurantes corporativos espalhados pelo Brasil, a Sapore serve 1,3 milhão de refeições diariamente — seja aos funcionários da linha de montagem da Volkswagen, das fábricas da Ambev ou alunos da FGV — boa parte deles no bom e velho sistema de self-service.
Mas com a covid-19 se alastrando pelo Brasil, o fundador da empresa, Daniel Mendez, concluiu que aquele modelo — em que centenas de mãos pegam na mesma concha de feijão — está condenado para sempre.
“A pandemia evidenciou a falta de higiene que é o self-service,” ele disse ao Brazil Journal. “Antes, o valor era esse: você poder se servir, pegar o que quiser sem desperdício, mas tinha esse fantasma por trás, que era todo mundo manipular as coisas… Mexer na comida antes era um problema, hoje virou uma catástrofe.”
Mendez começou a mudar tudo: a Sapore tornou máscaras e álcool em gel obrigatórios; instalou placas de vidro na frente da esteira de comida; e, no lugar do self-service, agora um único funcionário entrega a bandeja já com os talheres e a comida servida.
Em apenas três meses, a Sapore já converteu quase 100% de seus restaurantes para o novo modelo, abolindo por completo o self-service.
Com os restaurantes fechados e o mundo do delivery bombando, Mendez acelerou a entrada da companhia no varejo apostando num clássico brasileiro: a marmita.
O que era um processo lento de diversificação ganhou status de ‘pra ontem’.
Primeiro, a Sapore criou o PF Chic, uma marca de marmita proprietária disponível em todas as plataformas de delivery. Na semana passada, outro produto: a companhia estreou uma marmita exclusiva para o Uber Eats — concorrendo com o Loop, criado recentemente pelo iFood.
O produto, chamado de ‘Caseirinho’, começou a ser vendido na sexta passada, inicialmente em São Paulo, Rio, Paraná e Minas Gerais. O preço: a partir de R$ 9,99, para pratos como filé de frango, strogonoff e feijoada — “todos com acompanhamento.”
O reposicionamento da Sapore é mais uma virada na carreira de Mendez, um uruguaio que veio para o Brasil com 11 anos e se apaixonou pelo mundo da comida trabalhando como garçom no restaurante do pai. Quase 30 anos depois, a Sapore compete pau a pau com multinacionais como a Sodexo e GR no Brasil.
Mendez diz que o pulo do gato da Sapore é fazer “alimentação natural, padronizada e por um preço muito competitivo, coisa que os serviços de delivery hoje não conseguem. Tem uma pulverização muito grande, um monte de dark kitchen e cada uma fazendo de um jeito diferente.”
Depois de faturar R$ 1,9 bilhão em 2018 e R$ 2 bilhões no ano passado, a Sapore projetava chegar a R$ 2,2 bilhões este ano. Depois da pandemia, agora espera algo entre R$ 1,5 bilhão e R$ 1,6 bilhão neste annus horribilis.
Cerca de 80% dos restaurantes da Sapore estão abertos, mas operando dramaticamente abaixo da capacidade, em alguns casos faturando 5% em relação aos níveis normais. O faturamento está de 35% a 40% abaixo do ano passado.
Além de compensar essa queda nos restaurantes, a entrada no B2C é um hedge contra as mudanças de hábito dos brasileiros, com o crescimento do delivery e do home office.
Mendez acha que em um ano as vendas de marmita responderão por 10% do volume de produção da Sapore, e, em três anos, “no mínimo” 30% do volume.