A Popeyes Louisiana Kitchen sempre foi uma referência em frango frito nos EUA — em peças com osso ou sem osso, sempre vendidas em caixas de cartolina.

Mas apesar de ser a terceira maior rede de frango frito do país, a Popeyes nunca teve um hambúrguer de frango no menu.

Três semanas atrás, a Restaurant Brands International — dona da Popeyes e do Burger King e cujo maior acionista é a 3G Capital — finalmente introduziu a inovação.

Foi uma loucura. 

Nas redes sociais, o burger de frango de US$ 3,99 — chamado apenas de “The Sandwich” — foi aclamado como o melhor sanduíche de frango que já existiu nos EUA.

O Washington Post disse que o produto está acima da concorrência em qualquer parâmetro“the crunchiest, crispiest fast food chicken sandwich” no mercado.  Na New Yorker, a coluna “Anais da Gastronomia” não deixou margem pra dúvida:  “O sanduíche de frango da Popeyes chegou para salvar a América.” 

A novidade viralizou, filas se formaram nas lojas, drive-thrus tiveram que limitar as vendas a duas unidaders por cliente, e o estoque — que deveria durar até outubro — terminou ontem, rendendo à Popeyes tanto o constrangimento de um ‘supply chain’ mal calculado quanto o presente divino de uma mídia espontânea impagável.  

Tudo obra do acaso, ou do pessoal do marketing?

O sanduíche — o melhor lançamento no setor de fast food nos últimos 30 anos — pela primeira vez dá à Popeyes munição para bater de frente com a Chick-fil-A (pronúncia aproximada: “chik-filei”), um concorrente que cresce consistentemente há anos e acaba de se tornar a terceira rede de restaurantes dos EUA por faturamento, atrás apenas do McDonald’s e do Starbucks.

O crescimento da Chick-fil-A tem tirado clientes das lojas do Jack in the Box, Popeyes, Wendy’s e KFC… de todo mundo.

Ironicamente, a Chick-fil-A faturou US$ 10,5 bilhões ano passado com quase nenhuma inovação:  seu menu depende apenas dos sanduíches de frango.  Enquanto o Burger King fatura US$ 1,3 milhão por loja por ano e o McDonald’s, US$ 2,5 milhões, cada loja do Chick-fil-A vende US$ 4,6 milhões/ano.

A empresa, que não é listada na Bolsa, é idolatrada por analistas e investidores.  No fim de julho, a Goldman Sachs iniciou a cobertura do setor de restaurantes com um alerta:  “Preferimos evitar empresas que estão sofrendo pressões competitivas do Chick-fil-A.” 

“Não esperamos que [a pressão] diminua daqui para frente,” disse a Goldman, notando que seus analistas esperam uma “inovação contínua dos menus sanduíche de frango por parte das maiores cadeias (incluindo o McDonald’s) para ajudar a conter a perda para o Chick-fil-A.”

Comendo o sanduíche no ar, Jim Cramer perguntou, “Como ganhar dinheiro na guerra do sanduíche de frango?”  Na guerra entre Popeyes e Chick-fil-A, Cramer não pestanejou:  “Compre Tyson Foods!”  

A ação da RBI já subiu 47% este ano e negocia a 25 vezes lucro; a Tyson sai a 13 vezes, e 30% de seu faturamento vem da carne de frango. No início do mês, antes do sucesso do sanduíche, a 3G reduziu sua participação na RBI de 41% para 36%.

No Brasil, as 18 lojas da Popeyes já abriram no ano passado com 10 opções de sanduíche de frango, mas a empresa disse que está trabalhando para trazer o sanduíche para cá em breve. 

Em Miami, sede da Restaurant Brands, dois brasileiros estão dividindo boa parte do crédito pelo sucesso do produto:  Felipe Athayde, presidente da Popeyes Americas e há oito anos na RBI, e Bruno Cardinali, o chief marketing officer da marca na América do Norte. 

Procurados pelo Brazil Journal, eles não puderam falar: estavam fugindo do furacão que se aproximava da Flórida.