A Grendene acaba de reportar seu pior primeiro trimestre em vendas desde que a companhia abriu o capital em 2004.

A fabricante dos chinelos Rider e das sandálias Melissa e Ipanema — que já teve Gisele Bundchen como garota-propaganda — viu seu faturamento desabar 22%, enquanto o volume de pares vendidos mergulhou 30%.

Outras métricas: o resultado operacional desabou 72% e o lucro líquido, 51%.

Conhecida por não ter firulas e ir direto ao ponto na comunicação com os acionistas, a Grendene colocou a culpa no desempenho pífio da economia e disse que não vislumbra uma recuperação tão cedo no consumo, especialmente para as classes C e D. 

Isso fez muita gente coçar a cabeça: varejistas como Renner e Hering acabam de reportar resultados sólidos, diametralmente opostos aos da Grendene.  

Nem no concorrente mais próximo há sinais de problema.  “As vendas de Alpargatas que estamos acompanhando não estão assim, não,” disse um gestor comprado na fabricante das Havaianas.

Na teleconferência, o CFO da Grendene, Francisco Schmitt, disse que logo depois das eleições houve um aumento de pedidos por parte dos varejistas — mas que, diante das vendas abaixo do esperado, eles ficaram muito estocados e cancelaram pedidos no começo do ano. 

Segundo ele, os estoques dos clientes estão de três a quatro vezes maiores que o usual para o período.  Ainda que a queda tenha sido generalizada, o impacto foi mais profundo nos produtos mais baratos, sinalizando que a corda está mais apertada no pescoço de quem tem menos poder de compra.

Não está claro o quanto é macro e quanto pode ser atribuído a tropeços de gestão, mas o fato é que até agora a Grendene está sozinha no campo da decepção.

A própria companhia reconhece que poderia ter sido mais agressiva nas promoções diante do novo cenário e que pode ter havido erros pontuais em coleções. Mas nem isso explicaria a queda generalizada: sua marca que caiu menos teve recuo de 20% no volume neste começo de ano. 

“Sempre tem algum erro de produto ou coleção, mas é difícil errar tanto assim”, disse Schmitt, famoso por ser pessimista até quando as coisas vão bem.

Com baixa liquidez e um float concentrado em gestoras que carregam o papel, as ações de Grendene negociam em baixa de 7% por volta de 13 horas — uma queda menos pronunciada do que os números divulgados ontem poderia sugerir. 

As vendas no mercado externo também desabaram — 37% em volume —, ainda que os dados da Secex tenham apontando para aumento de 15% no período para exportação de calçados brasileiros como um todo. 

Segundo a companhia, houve uma antecipação de exportações em dezembro que distorce a comparação: enquanto a Grendene apura a receita quando o pedido é faturado, a Secex só contabiliza quando ele atravessa a fronteira. Mas esse efeito explica apenas parte do tombo.