A Arbor Capital, que investe em ações no exterior, fez um estudo para identificar as ações com a melhor performance nos últimos 25 anos.

A partir de uma amostra de 6.300 empresas, a gestora concluiu que cerca de dois terços do retorno dessas empresas são explicados pelo crescimento de receita por ação.

“São negócios que conseguiram manter crescimento acelerado por janelas longas de tempo,” disse Leonardo Otero, sócio da Arbor.

A Apple lidera a lista, com valorização média anual composta de 33% em dólar por 25 anos; seguida da varejista de autopeças O’Reilly Auto, com 23%; e da multinacional de saúde animal Idexx Labs, com 22%.

Como as teses de crescimento hoje estão concentradas no setor de tecnologia – e em empresas que ainda não têm lucro contábil – a Arbor então resolveu explicar por que faz sentido investir em tech mesmo com múltiplos de P/L que parecem estratosféricos.

Primeiro, a gestora estudou a performance do Walmart desde que a empresa de Sam Walton chegou à Bolsa. O período de maior crescimento (e de maior retorno da ação) foi ali entre 1987 e 1996, justamente quando o Walmart queimou mais caixa.

“Se o investidor estivesse olhando só o fluxo de caixa do Walmart nesse período, estaria vendo uma empresa volátil, que poderia estar prestes a enfrentar problemas,” disse Leonardo.

Acontece que, em empresas da velha economia, como o Walmart, o investimento em crescimento passa pelo fluxo de caixa (na forma de capex) e depois é amortizado ao longo de anos.

Mas em empresas de tecnologia – dominadas por ativos intangíveis – o crescimento é feito adquirindo novos clientes.  A regra contábil determina que esses investimentos não sejam capitalizados, e sim lançados como despesas no primeiro momento.

“No caso do Walmart, o investimento nas obras para abertura de loja é capitalizado e depreciado ao longo de décadas. Mas a aquisição de um cliente de software é lançada como despesa na demonstração de resultados na hora,” disse Leonardo.

Como o tratamento contábil do investimento é totalmente diferente, uma empresa apresenta lucro contábil, e a outra, prejuízo (o que a leva a negociar a múltiplos de P/L inaceitáveis para um investidor tradicional).

“Se o investimento do Walmart e da Salesforce tivessem o mesmo tratamento contábil – fosse capitalizado e depreciado ao longo de décadas – o lucro contábil da Salesforce seria enorme.”

O ponto da Arbor: ignore o P/L de hoje e foque no crescimento da receita e da margem no longo prazo.

“A ação do Walmart sempre negociou a 25-30 vezes lucro.  O investidor olha aquilo e acha razoável, mas aí olha a Salesforce e o múltiplo é muito alto e parece inaceitável. Mas se você olhasse o preço/fluxo de caixa do Walmart na sua época de maior crescimento, ele também te pareceria inaceitável.”