Em cidades como Nova York e Londres, muitos parques e praças são cuidados pelos moradores, que arrecadam recursos ou usam verbas da prefeitura para fazer a manutenção e a preservação dos espaços.
A lógica: com o Governo incapaz de cuidar sozinho de todos os aparelhos públicos da cidade, sem o apoio dos cidadãos eles acabam ficando abandonados e degradados.
Foi esse diagnóstico que serviu de inspiração para três empresárias cariocas colocarem a mão na massa.
Luciana Levacov, Lilian Pieroni e Renata Lima fundaram há cinco anos o Revitaliza Rio, um projeto para restaurar praças e parques e resgatar a autoestima da Cidade Maravilhosa.
“Cuidar desses espaços públicos é essencial para a manutenção da nossa história, para a conservação do meio ambiente e para garantir uma melhor relação das pessoas com a cidade,” Luciana disse ao Brazil Journal. “Temos espaços incríveis – com arquitetura, paisagismo e obras de arte consagradas – mas eles estão tão escondidos ou mal cuidados que não são utilizados.”
O primeiro projeto do Revitaliza Rio foi o portão do Parque Guinle, no bairro de Laranjeiras. Esculpido em bronze e ferro pela mesma empresa que fez a Torre Eiffel, o portão foi encomendado em 1910 pelo empresário Eduardo Guinle para a entrada do terreno de sua residência, hoje a moradia oficial do Governador do Estado.
Mas de uns anos para cá, o portão, tombado pelo patrimônio histórico, estava completamente abandonado e degradado: o bronze dos ornamentos havia sumido, e o ferro estava todo enferrujado. Algumas peças que compunham o conjunto também já não estavam mais lá, e o portão não abria mais, ficando apoiado no chão por gelo-baiano.
O portão foi todo reconstruído e finalmente voltou a se abrir.
O Revitaliza Rio capta recursos por meio da Lei Rouanet e da Lei do ISS, que permitem às empresas abater parte de seus impostos investindo em projetos culturais.
Luciana diz que a requalificação dos espaços públicos atrai mais pessoas, melhora a segurança na região, aumenta as vendas do comércio e gera um benefício duplo para o Governo — bem estar e aumento da arrecadação.
“A roda gira mais rápido quando a sociedade se alinha,” disse ela.
Empresas como Rede D’Or, Sotreq, BTG Pactual, Icatu Seguros, Klabin e Artplan são apoiadores importantes dos projetos.
O Revitaliza Rio já levantou R$ 2 milhões, usados para revitalizar também o Parque da Catacumba, uma reserva ecológica ao lado da Lagoa Rodrigo de Freitas.
“O parque da Catacumba é um museu a céu aberto, mas as obras estavam totalmente degradadas,” disse Renata.
Nesse caso, o restauro envolveu a revitalização de dezenas de esculturas de artistas consagrados como Sérgio Camargo, Carybé, Antônio Manuel e Franz Weissmann – todas deterioradas e escondidas na vegetação, fora da vista de todos – além de uma nova sinalização e um novo mobiliário, mudanças no paisagismo e uma reforma da casa-sede.
Mais recentemente, o Revitaliza Rio entregou a restauração do Parque da Cidade, na Gávea, que envolveu a restauração de obras como a Fonte do Índio e a Piscina Marajoara, do português Fernando Correia Dias, um dos pais do modernismo português e marido de Cecília Meireles.
Na Praça da Harmonia, na Gamboa – área portuária da cidade – o Revitaliza Rio fez melhorias, mas depois de conversar com os moradores do local, optou por não fazer uma intervenção mais agressiva.
“A gente havia imaginado um projeto para a praça, mas depois de muitas reuniões com quem vive no entorno, percebemos que o desejo deles era muito diferente do que tínhamos projetado,” disse Luciana. “Precisamos respeitar os moradores pois eles são os usuários diários e protagonistas no cuidado e manutenção do equipamento no futuro.”
Agora, o Revitaliza Rio está trabalhando na Praça Paris, no bairro da Glória, considerada uma obra-prima da belle époque carioca. O projeto urbanístico da praça é inspirado na capital francesa e nos jardins de Versailles, mas ela hoje enfrenta a criminalidade e é habitada pela população de rua.
Além de resgatar o paisagismo original, uma ideia é aumentar o uso do espaço, trazendo, por exemplo, uma versão da Feira do Livro que acontece todo ano no Pacaembu, em São Paulo.
Lilian disse que não faltam espaços públicos que poderiam se beneficiar de intervenções. “Nosso pipeline é tão grande que não damos conta. Faltam recursos para executar todos.”