Enquanto o preço da energia no mercado spot já está em R$ 300/MWh, a maioria dos analistas que cobrem a Eletrobras ainda tem no modelo um preço de venda da capacidade não-contratada de R$ 150-170/MWh para este ano.
Em outras palavras, a realidade já descolou da planilha, dando um upside substancial se os preços se mantiveram onde estão.
Fazendo as contas, o Bradesco BBI estimou o impacto que o preço de venda maior teria para os resultados da empresa, a maior geradora do Brasil.
“Se a Eletrobras garantir preços altos nos contratos até o final do ano, o EBITDA para 2025 poderia subir entre 4% e 11% em comparação ao nosso cenário-base,” escreveu o time de análise liderado por Francisco Navarrete.
O exercício do Bradesco considera um preço de venda entre R$ 200-300/MWh, e a diferença representaria um ganho de R$ 800 milhões a R$ 2,4 bilhões no EBITDA da companhia, respectivamente. A modelo atual do Bradesco é de um EBITDA de R$ 22,6 bilhões para a Eletrobras em 2025.
No lucro líquido, o impacto seria ainda maior, entre 10% e 30%.
Esse lucro maior, por sua vez, aumentaria o dividendo pago pela Eletrobras — cuja política de distribuição deve ser publicada após a conclusão do acordo com o Governo Federal e incluir, por exemplo, triggers para uma maior distribuição em momentos de alta nos preços.
“Se a Eletrobras mantiver um payout de 25%, o yield incremental seria de 0,2% a 0,6%,” escreveu o banco. “No entanto, se ela distribuir todo esse cash flow extra aos acionistas, o dividend yield incremental seria de 0,7% a 2,2%, levando o yield total do ano para entre 5% e 7%.”
Nos últimos meses, o aumento do Preço de Liquidação das Diferenças (PLD) foi brutal. (O PLD é estabelecido semanalmente pela CCEE com base numa fórmula matemática que usa dados históricos da pluviometria.)
Para se ter uma ideia, o PLD saiu de R$ 94/MWh em fevereiro para cerca de R$ 300/MWh em março.
O Bradesco nota, no entanto, que não há garantias de que esse patamar de preço seja sustentável, e que há um grande debate no setor em relação a isso.
“Como o cálculo do preço spot do PLD é hoje mais dependente do alto ou baixo volume de chuvas (e menos dos níveis dos reservatórios), se as chuvas aumentarem durante a estação seca (abril-novembro) os preços spot no segundo semestre podem cair? Talvez sim, mas dado o atual cenário e os data points, se os preços caírem por essa razão, o downside dificilmente cairia abaixo do nosso atual cenário-base de R$ 170/MWh.”