Uma gestora de venture capital recém-fundada está finalizando a captação de um fundo de US$ 25 milhões para uma estratégia inédita no mercado de VC brasileiro: combinar aportes de equity com investimentos na dívida de startups.
A Fuse Capital vai investir 70% do capital levantado em aportes de equity em startups, e aplicar os outros 30% em instrumentos de venture debt não conversíveis em ações.
Essa combinação deve criar uma relação risco-retorno melhor para os investidores e reduzir o impacto do carry no resultado desse tipo de produto, diz João Zecchin, o cofundador da Fuse.
“O carry dos fundos de VC é muito pesado porque são produtos de muito longo prazo,” João disse ao Brazil Journal. “Com esse formato, esperamos pagar um cupom de 6% ao ano para os nossos investidores e, quando finalizar o fundo, conseguir um retorno compatível com os de VC, com uma TIR anual em torno de 27%.”
A Fuse já captou 60% do fundo e investiu em nove empresas.
O portfólio inclui nomes como a gestora de criptomoedas Hashdex; a inglesa DNA.Nudge, que usa a genotipagem para indicar os melhores alimentos para o usuário de acordo com seu DNA; e a Fligoo, uma inteligência artificial que ajuda empresas a otimizar seu banco de dados.
Mais recentemente, a gestora liderou uma rodada na Arthur Digital Asset, uma mineradora de bitcoin fundada por brasileiros nos Estados Unidos.
“Temos só uma empresa coinvestida com outros fundos brasileiros, que é a Hashdex. A gente gosta de investir em coisas diferentes que ninguém está olhando. Temos orgulho de não participar da patota,” disse o gestor.
A Fuse investe nas rodadas iniciais de captação (pré-seed, seed e Série A) e é agnóstica em relação a setores. O prazo do fundo é de 10 anos, com cinco para investir e cinco para desinvestir.
Na parte de dívida, a gestora faz a maior parte das operações no México em parceria com a fintech a55, que dá crédito a startups usando as receitas recorrentes dos tomadores como colateral.
“O filtro inicial para selecionar as startups é ter pelo menos US$ 100 mil de receita recorrente,” diz João. “Eles escolhem as empresas que vão dar o empréstimo e mostram pra gente. Aquelas que gostamos, entramos junto com eles.”
A Fuse é uma casa nova, mas seus sócios já têm anos de experiência no mercado financeiro e em startups. João trabalhou na Portofino Investimentos, uma gestora no Rio, e na corretora Tradewire, em Miami. Na pessoa física, ele foi um dos primeiros investidores da Loggi e da Zee.Dog, comprada recentemente pela Petz.
Seus sócios — Dan Yamamura e Guilherme Hug — têm passagens pelas GP Investimentos, Gap Asset, XP, Kyros e pela incorporadora São Carlos, onde Dan foi CFO no início dos anos 2000.
A Fuse também está inovando na forma como lida com seu passivo.
A gestora pretende usar blockchain para tokenizar parte de seu fundo, transformando as cotas em tokens que poderão ser negociados em diversas exchanges de cripto. A ideia é que o modelo gere liquidez para os cotistas, resolvendo um dos grandes problemas dos fundos de VC e PE: quando o investidor precisa sair no meio do caminho.
Segundo João, a tokenização de fundos de VC já foi adotada por meia dúzia de gestoras americanas, mas ainda é algo inédito na América Latina.