Fernando Wosniak fundiu sua startup com a Zenvia em 2021 — e depois fez liquidez no IPO da empresa na Nasdaq.
Já Lício Carvalho fez sua saída anos antes, vendendo sua Tarkena para a B2W em 2013.
Agora, os dois empreendedores estão unindo suas experiências em uma nova aposta: soluções de crédito no mercado de duplicatas digitais, que está sendo transformado com o advento das registradoras centrais.
A dupla acaba de fundar a Delend, investindo R$ 30 milhões do próprio bolso e captando outros R$ 12 milhões com investidores-anjo e mais R$ 8 milhões com fundos de venture capital — incluindo um scout fund da a16z, a AirBorne Ventures e 2TM, o corporate venture capital do Mercado Bitcoin.
A Delend quer surfar a digitalização do mercado de duplicatas, que até pouco tempo não eram registradas — o que abria espaço para fraudes, limitando a oferta de antecipação desses recebíveis.
“As empresas podiam descontar a duplicata duas vezes, o que criava uma percepção de risco muito grande para quem dava os empréstimos. Não existia confiança nos dados,” Wosniak disse ao Brazil Journal.
Além disso, “o custo de servir era muito alto, por conta de todo esse trabalho que os bancos tinham para validar as informações.”
Recentemente, isso mudou: o Banco Central publicou no ano passado a Resolução 339, mudando a regulação desse mercado e criando a figura das registradoras centrais, que validam a unicidade de cada duplicata.
“Isso mudou o jogo nesse mercado, que agora pode ser digital, registrável e com a possibilidade de se conectar com o open finance e IA,” disse Wosniak.
Para comprar um canal de distribuição e já começar com alguma massa crítica nesse mercado, a Delend comprou a Rede OK, uma plataforma que ajuda empresas nas decisões de concessão de crédito (por exemplo, se a empresa deve vender parcelado para um cliente B2B ou não).
A transação foi paga parte em dinheiro e parte em ações, com os fundadores da Rede OK se tornando sócios da Delend.
“Como empreendedores de segunda viagem temos duas vantagens: experiência e dinheiro. Isso permite que a gente pule etapas pelas quais tivemos que passar nas nossas outras empresas,” disse Wosniak.
A Rede OK tem mais de 2 milhões de acessos por ano em sua plataforma e 40 mil clientes que pagam uma assinatura mensal para, usando a plataforma, poder analisar se vale a pena vender a prazo.
No ano passado, a Rede OK fez uma receita de R$ 56 milhões.
Além de expandir o modelo de SaaS, a ideia da Delend é usar a plataforma para entrar em outros momentos da jornada, passando a atuar também na concessão de crédito.
Depois de avaliar se a venda a prazo deve ser feita, a plataforma da Delend vai automatizar o processo de pagamento, fazer o registro das duplicatas na registradora e, por fim, oferecer a antecipação do recebível.
O funding virá de bancos parceiros, com a Delend ganhando uma taxa pela originação. Para dar a largada, ela fechou uma parceria com o ACCrédito, o banco da Associação Comercial de São Paulo, que separou R$ 10 milhões para fazer um teste na plataforma.
“Se der certo, a ideia deles é aumentar esse funding,” disse Lício, o outro fundador. “Nesse mercado, quem acerta e comprova track record tem uma demanda quase infinita.”
Só entre os clientes atuais da Rede OK, a Delend estima que há potencial para uma originação anual de R$ 6 bilhões em duplicatas e boletos pré-datados.
Com esse plano, a meta da Delend é chegar a uma receita de R$ 80 milhões este ano e num anual recurring revenue (ARR) de R$ 120 milhões em dezembro.
No meio do ano, os fundadores já querem fazer uma Série B para captar “pelo menos” R$ 100 milhões.
A visão de médio/longo prazo é evoluir para um modelo descentralizado e baseado em blockchain, com as duplicatas sendo ‘tokenizadas’ e transformadas em smart contracts.
“No futuro, vamos poder juntar várias duplicatas num produto ‘tokenizado’ e listar cotas delas nas exchanges de criptomoedas.”
CORREÇÃO: Essa matéria foi revisada para corrigir a descrição de como funciona o registro de duplicatas.