A Goomer — uma startup que ajuda restaurantes a criar seus canais de venda online e a digitalizar o atendimento das lojas — acaba de adquirir seu principal concorrente, aumentando sua receita em cerca de 30% e consolidando sua posição de liderança.
A aquisição da Abrahão foi paga em ações, com os acionistas da startup virando sócios da Goomer e o fundador Isaac Paes se tornando o CMO da empresa combinada.
Além do fundador, o maior acionista da Abrahão era a FEBACAPITAL, um venture capital fundado por brasileiros nos EUA que ajudou a criar o negócio do zero.
O valor da transação não foi revelado, mas as duas empresas combinadas passam a ter 400 mil restaurantes cadastrados e mais de 25 mil clientes pagantes. (Na Goomer, as assinaturas custam de R$ 40 a R$ 140 por mês, dependendo do plano).
A transação traz sinergias relevantes para as duas startups. Felipe Lo Sardo, o CEO e cofundador da Goomer, disse ao Brazil Journal que a competição com a Abrahão era muito forte, com as duas startups “roubando clientes uma da outra e os clientes fazendo leilão de preço entre a gente.”
Para ele, “faz todo sentido unir a maior com a segunda maior do setor para fugir disso e criar um player muito mais relevante.”
Felipe disse que há sinergias também na parte de desenvolvimento, já que os devs das duas empresas estavam trabalhando em soluções similares, e agora parte deles poderá se dedicar a outros projetos.
Fundada em 2014, a Goomer tem três produtos principais: a plataforma de delivery, que ajuda os clientes a criarem seus canais de venda digitais; o QR Code dentro das lojas físicas; e os tablets e totens de autoatendimento (também nas lojas físicas), usados para automatizar os pedidos e liberar tempo dos garçons.
Mais recentemente, a startup criou também um ‘customer data platform’, onde concentra todos os dados dos clientes (do digital e do físico), ajudando a atrair novamente esses clientes com email marketing, mensagens no Whatsapp e programas de fidelidade.
Felipe disse que nos últimos dois anos a Goomer mudou sua estratégia para se ajustar à nova realidade do mercado de startups — em que captar recursos está mais difícil e em que a balança está pendendo mais para o lado dos fundos.
Quando levantou sua primeira rodada em maio de 2021, o plano inicial era pisar no acelerador e captar uma nova rodada em 18 meses.
Com as mudanças do mercado, no entanto, a Goomer viu que não seria fácil fazer isso, e decidiu focar na rentabilidade. Deu certo: a startup saiu de uma queima de caixa trimestral de R$ 3 milhões para um EBITDA positivo de R$ 500 mil no terceiro tri deste ano.
A margem bruta, que era de 44%, subiu para 74% no mesmo período.
Isaac disse que fundou a Abrahão há cinco anos inspirado na própria Goomer. Na época, ele era dono de restaurante e cliente da Goomer quando decidiu criar uma plataforma concorrente.
A Abrahão tem os mesmos produtos da Goomer, mas é focada nas soluções para as lojas físicas, principalmente o tablet com o cardápio que fica em cima da mesa e permite ao consumidor fazer o pedido sem interagir com o garçom.
“Essa solução aumenta o tíquete médio do restaurante, elimina erros e faz o atendimento ter um peso menor na operação,” disse Isaac.
Segundo ele, a solução também tem um tíquete médio 5x maior que a ferramenta de delivery.
A Abrahão também tem um software de gestão de filas e reservas que será remodelado agora e disponibilizado para toda a base de clientes da Goomer.
João Brandão, o gestor da Bridge One, que investiu na Goomer em sua última rodada, disse que enxerga novas aquisições pela frente.
“Vemos bastante espaço para outras transações, tanto de produtos complementares quanto de carteira de clientes,” disse ele. “Se eles acharem boas oportunidades, estamos 100% interessados em financiar.”
O gestor disse que a Goomer está para o iFood assim como a Vtex está para o Mercado Livre ou a Amazon.
“A Vtex cresceu nos últimos anos consolidando o mercado. Ela foi um player muito eficiente em investimentos e que apostou muito num playbook de aquisições.”
A Goomer teve a assessoria jurídica do Arbach & Farhat. A Abrahão foi assessora por advogados internos.
Não houve assessores financeiros na operação.