Como todo jovem, aos 18 anos eu tinha o ideal de um mundo mais justo e igualitário, portanto mais à esquerda. Meu pai, já um empresário e banqueiro de sucesso, acabava de ser indicado prefeito de São Paulo, e eu ficava dividido entre o orgulho de meu pai e o meu mundo ideal. 

Hoje, olhando as fotografias da exposição “Olavo Setúbal, um homem diante de seu tempo”, no Itaú Cultural, é possível ver claramente o homem plural que ele foi, muito bem capturado na curadoria de Leno Veras, ajudado por Neca Setubal, minha irmã. A exposição dá um destaque à vida pública de meu pai, deixando a vida empresarial, até mais conhecida, representada por um espaço menor da exposição.

Meu pai foi um homem de realizações em vários campos de atividade, e em todos eles encontramos o traço comum de estar sempre buscando construir um Brasil melhor.

Como engenheiro fundou a Deca Metais, iniciando sua carreira de empresário industrial, acreditando na indústria nacional como elemento de desenvolvimento do País. Mais tarde, o idealismo em desenvolver tecnologia brasileira foi o motor para a criação da Itautec. Foi ele também o responsável pelo desenvolvimento da Duratex (hoje Dexco). 

Como banqueiro, foi o grande líder que levou um pequeno Itaú à posição de segundo maior banco privado do Brasil. Acredito que apenas essas credenciais já seriam suficientes para reconhecer seus méritos, mas ele foi muito além ao entrar na vida pública. 

Com 50 anos – e grande entusiasmo em contribuir –  assumiu a Prefeitura de São Paulo. Engenheiro de formação, iniciou o CET e abriu avenidas como a Aricanduva, a Juscelino Kubistchek e Henrique Schaumann, além de várias estações do metrô e outras obras importantes. 

Seu lado humano o fez dedicar-se sobretudo à zona leste da cidade, uma das mais carentes, criando escolas e postos de saúde. Sua visão de homem conhecedor do mundo o levou a plantar milhares de árvores na cidade e à criação de parques como o Carmo, o Piqueri e o Anhanguera, algo inusitado na época. 

Olavo também valorizou as artes e a cultura, o que, por exemplo, pode ser visto na Praça da Sé, na obra de ampliação feita em sua gestão, e ainda na criação da Secretaria Municipal de Cultura. Aliás, ele também criou o Itaú Cultural como a maior coleção numismática do Brasil entre outras inovações. 

Seus rigorosos princípios éticos, diferentes do mundo político que o cercava, o impediram de realizar o sonho de ser governador de São Paulo – mas ele acabou indicado para o Ministério de Relações Exteriores, onde implantou, muito ao seu estilo realista e pragmático, uma política de “diplomacia de resultados”, como ficou conhecida dentro do Itamaraty. 

Em sua gestão fez a primeira viagem diplomática à Rússia, simbolizando a redemocratização e a pluralidade de relações do Brasil logo após o regime militar. 

Na área política, participou ativamente da redemocratização ao lado de Tancredo Neves, de quem provavelmente seria ministro da Fazenda. 

Enfim, se aquele jovem de 18 anos teve suas dúvidas, 50 anos depois certamente tenho o maior orgulho de meu pai, por seu exemplo de ética e dedicação ao Brasil, e imensamente grato pelo privilégio de ter tido a educação que ele e minha mãe me proporcionaram. 

Muitos fatos que narrei aqui estão presentes em documentos ou fotografias na exposição, que começou há pouco e está aberta ao público até 13 de agosto. 

Roberto Setúbal é copresidente do conselho do Itaú Unibanco.