Polêmicas costumam ser divertidas. E no universo das bebidas alcóolicas, uma das mais acirradas e renitentes é a seguinte: vale ou não a pena comprar o Johnnie Walker Blue Label, a jóia da coroa da linha de whiskies mais vendida no planeta e produzida pela gigante global Diageo?
Antes de mais nada, é importante entendermos o que é o Johnnie Walker Blue Label. Trata-se de um blended scotch whisky, ou seja, de uma combinação de vários single malts (feitos de cevada maltada por uma destilaria específica) e os chamados whiskies de grão, produzidos com outros grãos e usados para ser a base dos blends. Nesse tipo de bebida, a idade declarada – 12 anos, por exemplo – refere-se ao whisky mais jovem usado na mistura.
No caso do Blue Label, a Diageo não divulga a idade do blend, mas se gaba de usar maltes selecionados de apenas “um em cada dez mil barris”. Ainda segundo a empresa, o produto traz notas de “avelãs, mel e sherry, antes de liberar segredos ocultos tais como gengibre, kinkan, madeira de sândalo e chocolate amargo. Uma rica doçura de mel surge acompanhada de toques de pimenta e frutas secas, antes de um acabamento suave e incrivelmente prolongado de um leve defumado perfeitamente equilibrado”. Hoje existem também diversas edições especiais da Diageo com o rótulo Blue Label.
Se tudo isso é verdade, a pergunta natural é o porquê da polêmica. O cerne da questão é o preço do Blue Label. No varejo no Brasil, uma garrafa do topo de linha da Johnnie Walker varia entre R$ 1 mil e R$ 1,5 mil, um valor considerado caro para um blended whisky e que fez muitos apreciadores torcerem o nariz para o produto.
Para entender melhor a controvérsia, basta olhar e comparar os preços praticados no duty free dos aeroportos brasileiros. Uma garrafa de Blue Label (sem promoções) custa atualmente US$ 230; já outros blended whiskies mundialmente famosos, como o Chivas Regal 18 anos e o Old Parr 18 anos, saem por US$ 91,35 e US$ 72 respectivamente. Vários badalados single malts, como Macallan e Balvenie, também podem ser encontrados nessas lojas com preços bem mais em conta.
Para se ter uma ideia melhor do custo do Blue Label, vale dizer que no free shop o preço de uma garrafa do produto equivale a quase 8 garrafas do Johnnie Walker Black Label, o whisky 12 anos da linha da Diageo e um dos mais vendidos no mundo.
Desde o lançamento do Blue Label, a polêmica explodiu. Se você digitar “Johnnie Walker Blue Label is it good” no Google, vai receber nada menos do que 16,8 milhões de links. Dos mais radicais, nos quais a crítica mais gentil é a de que “só idiotas” gostam da bebida, a outros que o consideram “o melhor whisky do mundo.”
Numa entrevista que viralizou e já virou meme, o ex-jogador e técnico de futebol argentino Alfio Coco Basile foi taxativo ao ser perguntado sobre qual seria seu whisky favorito: “O Johnnie Walker Blue Label. O Black Label é um whisky; o Blue é um elixir. Um se toma, o outro se saboreia”, explicou, em sua característica voz grave. Assista aqui.
Para citar um exemplo contrário, o divertido canal Whiskey Tribe fez uma degustação às cegas de toda a linha do Johnnie Walker – e o Blue Label se saiu bem mal em comparação aos seus pares. “Sem graça. Provei mais uma vez e continuo a não gostar dele”, disparou Daniel Whittington, o “whisky sommelier” do grupo. Assista aqui, em inglês.
“O Johnnie Walker Blue Label é ao mesmo tempo um dos whiskies mais desejados e mais polêmicos do mundo. Grande parte desta polêmica, porém, gira mais em torno de seu preço do que, realmente, de sua complexidade”, analisa Maurício Porto – sócio do badalado bar Caledonia, em São Paulo – em seu portal “O Cão Engarrafado.”
“Se você analisar friamente, é muito dinheiro para um blended whisky sem idade definida, no qual a maioria de seus componentes é filtrada a frio, e com 40% de graduação alcoólica.”
Obviamente neste caso não existe opinião certa ou errada. Tudo é uma questão de paladar e de profundidade do bolso.
Se você aprecia um whisky mais suave, com notas frutadas e doces, com sabor defumado menos pronunciado, o Blue Label é uma excelente opção, ainda que cara. Já os apreciadores de estilos mais poderosos – como os escoceses Islay, com muita influência de turfa – vão achá-lo decepcionante. O mais importante é se divertir (com responsabilidade) provando os dois estilos.
Flávio Ribeiro de Castro ama comer e beber bem.