A Seacrest – uma petroleira com operações no Brasil controlada por um grupo norueguês – estreou hoje na Bolsa de Oslo avaliada em US$ 383 milhões (post-money).
Na oferta, precificada ontem, a companhia levantou US$ 260 milhões para bancar a aquisição do Polo Norte Capixaba, no Espírito Santo, que pertencia à Petrobras.
O IPO saiu a 6 coroas norueguesas por ação e avaliou a Seacrest a um múltiplo de 6x EV/reservas 2P – um desconto em relação à PetroRecôncavo, que negocia ao redor de 9x, e um prêmio sobre a 3R, que negocia ao redor de 4x.
A Seacrest foi fundada em 2017 por Erik Tiller e Paul Murray, que também controlam uma outra petroleira de campos maduros, a norueguesa OKEA.
A ideia dos empresários é repetir no Brasil o playbook da OKEA na Noruega: em 2018, ela comprou dois campos maduros da Shell e investiu para revitalizá-los, aumentando significativamente a produção.
No Brasil, a Seacrest comprou há dois anos o campo de Cricaré por US$ 155 milhões e, há um ano, assinou a compra do Polo Norte Capixaba, rico em gás, por US$ 554 milhões. Ambos os campos pertenciam à Petrobras.
Além dos recursos do IPO, a Seacrest levantou US$ 300 milhões em dívida com bancos brasileiros para financiar a transação.
Em Cricaré, a Seacrest já triplicou a produção em um ano, passando de 700 barris por dia para 2,5 mil, o CEO Michael Stewart disse ao Brazil Journal.
O Polo Norte Capixaba produz outros 4,5 mil barris por dia, dando à Seacrest uma produção total de 7 mil barris/dia.
“Historicamente, esses dois campos somados já chegaram a produzir 20-30 mil barris por dia,” disse Michael, um americano que hoje mora no Leblon. “Mas com a falta de investimento a produção caiu muito. Agora, queremos levar a produção de volta aos níveis históricos.”
Segundo ele, a Petrobras operava com prejuízo nesses campos por dois motivos: a falta de investimento e o fato de ter um custo de operação muito maior. Enquanto a Seacrest opera com um custo de extração de US$ 20/barril, a Petrobras opera com um custo de US$ 60/barril.
“Com o preço do petróleo hoje, vamos conseguir ser muito lucrativos nesses campos,” disse ele, acrescentando que o preço de breakeven da Seacrest gira em torno de US$ 50 por barril.
“Mas se [o preço do petróleo] for abaixo disso, também não tem problema. Investiremos mais para sermos mais eficientes e baixar os nossos custos.”
No curto prazo, o foco da Seacrest será desenvolver os dois campos adquiridos. Mas no médio prazo, a companhia vê oportunidade de fazer parcerias com a Petrobras em outros ativos.
“Não achamos que a Petrobras vai vender mais ativos, mas vemos oportunidade de entrar como parceiros deles no desenvolvimento de alguns, tornando-nos sócios,” disse o CEO.
A Seacrest é a mais recente petroleira a levantar recursos na Bolsa para investir num setor que até pouco tempo era operado apenas pela Petrobras. Nos últimos anos, a 3R Petroleum, PetroRecôncavo e PetroRio já levantaram bilhões.
Segundo Michael, a decisão de fazer o IPO na Noruega teve a ver com o timing do mercado, já que a Bolsa brasileira está virtualmente fechada. “Em Oslo conseguimos atrair interesse e captar o que precisávamos,” disse ele.
O maior investidor do IPO foi a Mercuria Energy, uma trading de petróleo europeia que aumentou sua participação de 10% para 30% do capital da companhia.
Outros grandes acionistas são os dois fundadores, que tinham 30% da empresa antes do IPO e tiveram sua participação diluída para 10%, e a Helikon Investment Ltd, um fundo de Londres.
O empresário Jones Aranha de Sá, que fez fortuna com as térmicas emergenciais a óleo em 2000-2001 e hoje é dono da Global Participações Energia (GPE), tinha 20% da Seacrest antes do IPO por meio de um veículo chamado Commanderi Investment Holding. Não está claro se Jones manteve sua posição ou foi diluído.