Nerds, 1. Jogadores de futebol, zero.
A notícia de que um brasileiro receberá pela primeira vez a Medalha Fields, o “Nobel de Matemática”, deveria aplacar na alma nacional a amargura do 7 a 1 da semifinal da Copa e sugerir que a pátria amada se faz não só com chuteiras mas também com algoritmos.
Mas acima de tudo, o prêmio dado a Artur Avila, pesquisador do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), do Rio de Janeiro, mostra a importância das doações de empresas e indivíduos para a pesquisa fundamental no Brasil.
Avila continua estudando no Impa, e não apenas no exterior, em grande parte graças a uma doação de Arminio Fraga, que criou uma cátedra no instituto.
Fraga está ‘apenas’ devolvendo à sociedade parte de seu sucesso na vida privada, na qual aprendeu sobre os intestinos dos mercados como operador de George Soros e, mais tarde, fundou a gestora Gávea Investimentos. Em sua vida pública, introduziu o sistema de metas de inflação no Brasil como presidente do Banco Central, e atualmente é cotado para Ministro da Fazenda num eventual Governo Aécio Neves.
Não, esta não é uma propaganda — subliminar ou explícita — de um candidato, até porque a crença na pesquisa e no progresso não é nem pode ser monopólio de nenhum ente político — e sim uma obsessão do Estado, com a qual a parte de cima da pirâmide deveria contribuir com muito mais do que os trocados da isenção fiscal.
“É preciso que haja mais pessoas que entendam a importância de pesquisa básica e doem,” Vinicius Carrasco, um pesquisador da PUC-Rio, postou no Twitter. “Nos EUA, grande parte dos recursos vem de doações. É preciso haver mais doadores. Minha instituição faz esforço enorme e consegue pouco. Pela enormidade que é, [o] Impa também consegue pouco.” Veja aqui os doadores da PUC.
Nem tudo, no entanto, é questão de dinheiro. Comandado por César Camacho, o Impa tem uma gestão em linha com as melhores universidades do mundo. Quando contrata um professor, a seleção não se restringe ao Brasil: é feita no mundo todo. O candidato não precisa nem falar português. O critério é meritocrático, bastante diferente da maior parte das universidades federais do Brasil. O modelo do Impa mostra como um ente público, meritocrático e com apoio privado, pode ser extraordinariamente bem-sucedido.
Há alguns anos, a Vale quis fazer uma grande doação para um instituto de estudos de sustentabilidade na USP. A universidade aceitou os recursos, desde que a Vale não pudesse escolher como o dinheiro seria gasto. Resultado: a doação da Vale acabou na Columbia University, em Nova York.
O Brasil tem que ter orgulho da Vale, da Embraer, e de suas várias outras grandes empresas de padrão mundial. Mas para termos um Google, uma Apple e uma Intel, precisamos de mais Avilas, modelos de gestão abertos e mais doadores com visão de País.