Virgil Abloh poderia ter nascido em Gana — a terra de seus pais — mas o destino quis que nascesse na América e crescesse nas ruas de Chicago, andando de skate e ouvindo rap e hip hop.
Sua mãe trabalhava de costureira. O pai, gerente de uma fábrica de tintas, sonhava com um filho engenheiro.
“Se meu pai não tivesse tomado a decisão de refazer a vida nos EUA, eu teria crescido nas ruas de Gana, onde o esgoto corre a céu aberto,” disse numa entrevista à Vogue. “Então eu não tive a opção de me rebelar. Se ele me mandava fazer a lição de matemática, eu tinha que fazer.”
Hoje, o designer por trás da Off-White está em todas: desfilando coleções na Semana da Moda de Paris, lançando múltiplos colecionáveis na Art Basel e cadeiras no Salão do Móvel de Milão. É possível encontrá-lo também nas pickups do Coachella, o festival de música na Califórnia, e até no US Open (vestindo Serena Williams).
Artista, DJ, arquiteto e designer, o próprio Virgil se tornou uma grife, disputado por marcas que vão da Vitra a Ikea, da Louis Vuitton à Nike.
Suas roupas são o sonho de consumo de adolescentes abastados, dispostos a pagar US$ 300 por um moletom. Mas Virgil faz uma quantidade limitada de peças e, com isso, cria um mercado secundário em que uma bolsa de € 600 pode acabar sendo revendida por até US$ 10 mil.
“Geralmente você tem que ter o contato com a vendedora da loja, que guarda para você quando as peças chegam, caso contrário é quase impossível comprar,” diz uma cliente da marca. As vendas da Off-White cresceram 59% no primeiro semestre na comparação ano contra ano.
O trabalho de Virgil chama atenção pela erudição: suas referências passam por Caravaggio, Mies van der Rohe, Bauhaus e Rem Koolhaas.
Virgil acredita que nada se cria e tudo se transforma – o que tem levado a críticas de que ele seria mais um ‘apropriador’ que um criador original.
Ele se defende: “Essa ideia de que para fazer um novo design você tem que sair do zero é coisa do passado. Pra mim, design é sobre aquilo que eu acho digno de se contar uma história. Meu objetivo é realçar as coisas – é por isso que colaboro muito, é por isso que uso muitas referências, e é isso que faz o meu trabalho ser o que é.”
Virgil tem só 20 anos de carreira mas já ganhou uma retrospectiva no Museu de Arte Contemporânea de Chicago: “Virgil Abloh: Figures of Speech” fica em cartaz até 22 de setembro — acompanhada de um catálogo de quase 500 páginas.
Virgil começou a despontar no universo fashionista em 2013, ao lançar a Off–White, sua própria grife de street fashion de luxo. No ano passado, assumiu a direção artística da coleção masculina da Louis Vuitton.
Com o look ‘moletom com capuz e tênis chamativos’ se tornando item obrigatório nas coleções da LVMH, Dior, Chanel, parcerias com rappers e skatistas estão invadindo as passarelas.
Nascido em 1980 em Rockford, Illinois, Virgil se formou em engenharia civil na Universidade de Wisconsin-Madison.
Sobreviveu ao curso como aluno mediano, até que, no último ano da faculdade se matriculou em uma matéria eletiva de pintura. “Era do outro lado do campus, onde eu deveria ter estado desde o início.” Encantou-se com a biblioteca de arte – dos livros à arquitetura brutalista do prédio.
Sem saber o que fazer da vida, emendou um mestrado em arquitetura no Illinois Institute of Technology.
Antes de entrar para o mundo da moda, foi por quase 14 anos uma espécie de conselheiro e diretor artístico do rapper Kanye West – que conheceu num quiosque nas ruas de Chicago, onde estava imprimindo camisetas (sua primeira ‘coleção’).
Virgil e Kanye West tinham em comum planos de empreender no mundo da moda. Em 2009, eles se candidataram a uma vaga de trainee na Fendi, na Itália. (Faz parte da mítica dizer que era um trabalho de 9h às 17h, com salário de US$ 500.)
Na época, Virgil ainda estava na sombra de Kanye, mas o cantor já era um pop star, com Grammys no currículo e uma linha de sapatos assinada com a Louis Vuitton. Pouco depois, Kanye viria a lançar sua grife Yeezy, que assina designs de tênis – no início em parceria com a Nike, hoje com a Adidas.
Virgil seguiu o roteiro ‘by the book’.
Fundou a Off–White em Milão e, no ano seguinte, em 2014, fez sua estreia na Semana de Moda de Paris.
A New Guards Group, uma holding de marcas de street fashion de luxo que fatura cerca de US$ 350 milhões/ano e tem a licença exclusiva para distribuir os produtos da Off–White, acaba de ser vendida à Farfetch por US$ 675 milhões.
A ação da Farfetch implodiu 45% com a notícia, com analistas reclamando que a companhia estava mudando a estratégia que havia vendido no IPO em setembro.
“Os investidores qureriam um negócio que fosse simplesmente um marketplace de produtos — ‘asset light’ — sem muito risco de estoque ou de design,” um analista dissebà CNBC. A ação da Farfecth, que saiu a U$ 20 no IPO e chegou a US$ 33, agora negocia a US$ 9.
O CEO da Farfetch, José Neves, articulou sua visão:
“As marcas do futuro terão três elementos principais. Primeiro, um criador de tendências capaz de alavancar os canais digitais para engajar uma comunidade global; segundo, o melhor projeto, planejamento e fabricação; e terceiro, uma distribuição online ‘ direct-to-consumer’ complementada por uma presença atacadista conectada nas boutiques físicas de maior prestígio,” disse.