A EQI acaba de captar R$ 50 milhões para seu primeiro fundo ligado ao agronegócio com um modelo ainda inédito no Brasil: investir em terrenos em áreas de preservação ambiental.
O patrimônio do fundo, que se chama FIP Forêt, será formado por propriedades rurais localizadas no interior de Unidades de Conservação, principalmente parques estaduais criados pelo governo e que ainda não foram desapropriados.
O alvo são terrenos que ainda não tenham sido desapropriados no estado de São Paulo. Cerca de 5 mil hectares já estão praticamente negociados para formar esse primeiro lote.
A vegetação nativa dessas propriedades pode ser convertida em Certificados de Reserva Ambiental (CRA), que podem ser vendidos.
A EQI planeja vender esses títulos para produtores rurais ou empresas com produção agropecuária que precisam compensar um eventual déficit de sua área de reserva legal.
No caso de São Paulo, o Código Florestal determina que 20% da área total das propriedades precisam ser mantidas com essa reserva legal.
O retorno do fundo depende da comercialização de longo prazo desses títulos.
“São Paulo tem um déficit de aproximadamente 360 mil hectares de reserva legal, e os donos desse déficit têm até o fim deste ano para declarar como pretendem fazer a compensação desse passivo, que pode ser com o replantio de floresta – que tipicamente demora 20 anos – ou a aquisição das cotas,” Olivier Colas, o co-head de agro da EQI, disse ao Brazil Journal.
Colas lidera a vertical da gestora juntamente com seu sócio Eça Correia, um ex-executivo da Pwc. Os dois começaram a desenhar o Forêt há pouco mais de 12 meses.
A expectativa de retorno é de cerca de 30% a.a., com prazo de dez anos para resgate. “Temos a possibilidade de fazer as primeiras amortizações a partir do quinto ano, mas não uma obrigatoriedade,” diz Correia.
A aposta da asset também pode ajudar a resolver um problema para a Fazenda paulista. Desde que o governo de São Paulo passou a editar decretos e leis para desapropriar áreas e criar parques estaduais, estações ecológicas e áreas de proteção ambiental no início da década de 60, iniciou-se uma enxurrada de processos judiciais por parte dos proprietários desses terrenos, em busca de indenização.
Milhares de processos tramitam em diferentes instâncias da Justiça e estima-se que as indenizações possam custar ao Estado mais de R$ 50 bilhões.
Os sócios estão buscando os terrenos que são alvo dessas disputas judiciais – e que, portanto, estão baratos – para gerar cotas ambientais.
Por enquanto, o foco está em São Paulo, onde, segundo Colas e Correia, a fiscalização ambiental está mais madura e o déficit de áreas de reserva legal é mais óbvio. Mas os dois já fazem planos de criar um novo fundo para investir também em Minas Gerais e no Paraná.
Fotos do Parque Estadual Turístico do Alto da Ribeira.