mobydickDo editor Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras, sobre o fechamento da editora Cosac Naify, anunciado hoje por seu fundador, Charles Cosac:

“Lamento muito o futuro encerramento das atividades da Cosac como leitor, editor e admirador de design gráfico de livros. Havia sempre a preocupação como empresário de que o modelo de negócios da Cosac poderia se mostrar de difícil sustentação. Durante os anos a empresa foi hábil em driblar essas dificuldades de duas formas. Em primeiro lugar pela generosa disposição dos sócios de investir e criar mercado para edições tão sofisticadas a preços acessíveis, e também buscando alternativas tipicamente brasileiras, como vendas à bibliotecas e escolas, de suas edições, principalmente da linha infanto-juvenil.”

“Com a crise orçamentária do governo e a paralisação das compras governamentais esta segunda alternativa secou consideravelmente. É um sinal a mais das dificuldades que todo o mercado editorial enfrenta hoje. Talvez a combinação destes fatores tenha sido importante para a decisão anunciada hoje. É um dia triste para todos nós,” Schwarcz disse a VEJA Mercados.

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Para esta coluna (e qualquer brasileiro com cultura livreira), o fechamento da Cosac é uma das piores notícias do ano.alice_especial_g

A editora se notabilizou por publicar livros de arte de qualidade impecável, em grande parte graças ao senso estético singular de Charles Cosac, um dos maiores conhecedores de artes plásticas do Brasil.

Ao investir cerca de 70 milhões de reais na editora junto com o cunhado Michael Naify, sem qualquer retorno financeiro nos últimos 15 anos, Charles agiu como um mecenas involuntário — dedicado, criativo e talvez utópico — da bibliofilia brasileira.

O catálogo da Cosac, que será vendido, tem cerca de 1.600 títulos e inclui autores como Pasolini, Tolstói, Claude Lévi-Strauss, Valter Hugo Mãe, e o artista plástico Tunga.

A partir de seu pequeno escritório em São Paulo, a Cosac Naify mostrou que um Brasil de excelência é possível.

É uma infelicidade que o mercado tenha se mostrado pequeno em face deste sonho grande.