Os maiores anunciantes do mundo viram que só notas de repúdio não adiantam. Agora, estão pressionando as redes sociais com sua arma mais eficaz: os advertising dollars.
 
Primeiro foi a Unilever.
 
A fabricante da Hellmann’s e do sabonete Dove suspendeu todos os seus anúncios nos EUA no Facebook, Instagram e Twitter “pelo menos” até o final do ano, descontente com a disseminação de discurso de ódio pelas redes sociais.
 
10221 36488f5b 8a4e 1ff7 0000 51c13125acd5“Continuar anunciando nessas plataformas no momento não agregaria valor às pessoas e à sociedade”, disse Luis Di Como, vice-presidente executivo de mídia global da Unilever.
 
No mesmo dia, a Coca-Cola foi além: anunciou a suspensão de seus gastos globais nas plataformas por pelo menos 30 dias — incluindo Facebook, Instagram, Twitter, YouTube e Snap. 
 
No comunicado, o CEO James Quincey disse que “não há lugar para o racismo no mundo e não há lugar para o racismo nas mídias sociais.”
 
O boicote à publicidade nas plataformas — que se chama “Stop Hate for Profit” e tem como principal alvo o Facebook — está sendo organizado pelos maiores grupos de direitos civis dos EUA: a Anti-Defamation League (da comunidade judaica) e a NAACP (a principal organização do movimento negro nos EUA).  
 
Eles pediram às marcas que suspendam seu investimento no Facebook durante o mês de julho porque a companhia tem feito corpo mole na luta contra o discurso de ódio e a desinformação.
 
“Nós sabemos o que o Facebook fez,” diz o site da Stop Hate.  “Eles permitiram o incitamento à violência contra os manifestantes que lutavam pela justiça racial nos Estados Unidos (…), eles chamaram o Breitbart News de “fonte confiável de notícias” e fizeram do The Daily Caller um “verificador de fatos”, apesar de ambas as publicações estarem associadas a nacionalistas brancos, eles fecharam os olhos à flagrante supressão de eleitores em sua plataforma.”  
 
Os organizadores do boicote perguntam: o Facebook “poderia proteger e dar suporte aos usuários negros? Poderia denunciar a negação do Holocausto como ódio? Poderia ajudar a estimular as pessoas a votar? Eles absolutamente poderiam. Mas estão optando ativamente por não fazê-lo.” 
 
O Facebook fatura US$ 70 bilhões por ano, 99% com publicidade.
 
Na sexta-feira, os anúncios sobre o fim dos anúncios derrubaram a ação em mais de 8%; o Twitter caiu mais de 7%.
 
No mesmo dia, Mark Zuckerberg anunciou que o Facebook vai passar a rotular os posts que violam suas políticas mas ao mesmo tempo são notícia — como vários posts de Donald Trump — a mesma medida que o Twitter já adotou recentemente. 
 
O Facebook também disse que vai implementar ferramentas para impedir que eleitores sejam convencidos a não votar e para proteger imigrantes de anúncios que os descrevam como inferiores.
 
Os organizadores do boicote descreveram as novas políticas como “um pequeno número de pequenas mudanças.”  “Já fomos por esse caminho com o Facebook antes. Eles pediram desculpas no passado. Eles deram poucos passos depois de cada catástrofe na qual  eles desempenharam um papel. Mas isso tem que acabar agora.”
 
Neste domingo foi a vez do Starbucks, que além de suspender seu investimento nas redes sociais prometeu “discutir internamente e com nossos parceiros na mídia e organizações de direitos civis” formas de combater o discurso de ódio na internet.
 
Ontem, a Diageo — dona de marcas como a Smirnoff, Tanqueray e Johnnie Walker — também disse que vai suspender seus anúncios nas principais plataformas a partir de julho.
 
Além dos pesos pesados, mais de 100 anunciantes já anunciaram sua intenção de entrar no boicote, de acordo com uma lista mantida pela organização Sleeping Giants. Os nomes incluem a Levi’s, Hershey, Patagonia e The North Face.
 

No Brasil, algumas empresas têm sido ainda mais pró-ativas na defesa da tolerância.

Na semana passada, logo após a Ambev alterar seu logo nas redes sociais para apoiar o mês do Orgulho LGBT, alguém provocou:

“Ambev, poderia também criar uma logo para ‘Orgulho Hétero’?!”, escreveu um seguidor. 

“Não podemos, não. Abraços”, respondeu a empresa. 

A resposta viralizou nas redes.

Em 2017, o Burger King Brasil fez de uma drag queen a estrela de seu comercial. Na internet, houve reação.  Alguns seguidores disseram que iam boicotar a empresa e que “quem lacra não lucra.”

Hoje, o BK voltou ao tema. Anunciou que vai doar todo o lucro líquido das vendas de sanduíches neste domingo para ONGs de apoio à comunidade LGBT+. 

E, num filme, dobrou a aposta:  “Os haters pediram. A gente topou. Quem lacra não lucra (mesmo). Peça seu BK e lacre com a gente.”