A mexicana Alsea está dobrando sua aposta na Europa.
 
Menos de duas semanas após fechar um acordo para operar 260 lojas do Starbucks na Europa, a empresa anunciou hoje a compra do grupo espanhol Vips, marcando sua inflexão para um player efetivamente global.
 
A transação – que saiu por € 500 milhões – inclui as 130 lojas do Vips, uma rede de lanchonetes famosa na Espanha e em Portugal, além de 140 lojas do Starbucks nos dois países, 15 da TGI Fridays e mais algumas outras marcas locais. Ao todo, são 450 lojas.
 
O deal é significativo: o grupo Vips fatura € 415 milhões, ou 22% da receita consolidada da Alsea e representa 15% da sua geração de caixa. Após a conclusão da aquisição, a estimativa é que mais da metade da receita da Alsea passe a vir de fora do México – uma diversificação importante num momento em que os riscos do país vêm aumentando.  
 
Hoje, a operação mexicana representa 56% da receita, enquanto Espanha e América Latina representam 22% cada. Nas contas do BTG, esses percentuais devem passar para 45%, 38% e 17%, respectivamente.  (Desde 2014, a Alsea já atua na Espanha com o grupo Zena, que hoje controla 549 restaurantes no país)
 
Mais do que a diversificação, a aquisição sinaliza a aposta da Alsea no potencial do Starbucks na Europa – uma região que sempre foi deixada de lado pela matriz americana, focada nos Estados Unidos e na China. Além disso, a empresa também teria ambições globais para as marcas Vips Café e Vips Smarts, que por enquanto operam apenas na Espanha, Portugal e Andorra.
 
Se por um lado os otimistas devem receber bem a diversificação, por outro a Europa cresce a um ritmo menor que a América Latina – e a Alsea vai precisar mostrar que tem capacidade de execução do outro lado do oceano.
 
A estrutura de capital da Alsea também vai ficar mais apertada. A companhia pagou um múltiplo de 12,5 vezes o EBITDA pelo grupo Vips – enquanto ela própria vem negociando a menos 9 vezes na Bolsa do México
 
A operação deve elevar a alavancagem da Alsea para níveis críticos, com uma dívida líquida equivalente a 3,7 vezes o EBITDA, o que já levantou especulações sobre uma possível emissão de ações para dar folga ao negócio.
 
“Não descartaríamos tanto um waiver dos bancos para os covenants de 3,5 vezes quanto uma emissão de equity de alguma forma na própria Espanha (seja via um IPO ou um player privado)”, disse a equipe do BTG Pactual em relatório.
 
Pelo acordo, os atuais controladores do grupo Vips, a família Arango e o fundo ProA Capital, farão uma injeção de capital de € 75 milhões na nova empresa (que será criada para controlar os grupos Vips e Zena), em troca de uma participação de 8% na holding.