Duas transações envolvendo fabricantes de sucos na última semana mostram o apetite de investidores estratégicos e financeiros por marcas de produtos saudáveis.
Na primeira, a Gávea Investimentos comprou uma participação minoritária (49,9%) na Natural One, fundada por Ricardo Ermírio de Moraes, cuja família era dona da Citrovita antes de fundi-la com a Citrosuco.
Segundo a repórter Tatiana Bautzer, da Reuters, que deu a notícia com exclusividade, Moraes manteve negociações com a Coca-Cola, a Ambev, a inglesa Britvic e mais dois fundos de private equity.
A preferência de Moraes era vender todo o capital da empresa para um investidor estratégico, mas a Coca e a Ambev abandonaram o processo mais cedo, sem disposição de pagar o ‘valuation’ de cerca de US$ 150 milhões ambicionado pelo empreendedor.
No mercado de sucos, a maior parte do resultado geralmente fica nas mãos do fabricante de polpa e da TetraPak, cuja embalagem detém quase um monopólio naquele segmento.
Além de apostar em misturas proprietárias, o grande diferencial da Natural One foi desenvolver uma embalagem mais barata, de plástico transparente, que permitiu à nova marca se rentabilizar apesar de ainda não ter escala.
Na outra transação, anunciada nesta terça, a Britvic — fabricante britânica de bebidas que engarrafa a Pepsi no Reino Unido — comprou a Bela Ischia por R$ 218 milhões.
Fabricante de sucos prontos e concentrados, a Bela Ischia é pouco conhecida na maior parte do País e tem presença mais forte no Rio de Janeiro e em Minas Gerais. A empresa faturou R$ 160 milhões nos últimos 12 meses, e teve um lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (EBITDA) de R$ 18,5 milhões.
Para Britvic, trata-se de aumentar sua presença no Brasil, onde a companhia entrou em setembro de 2015 ao pagar R$ 580 milhões pela Empresa Brasileira de Bebidas e Alimentos SA, dona das marcas Maguary e Dafruta.
Apesar da sede dos investidores, nem todos os sucos são criados iguais. “O mercado de sucos anda muito competitivo e as marcas do segmento néctar vem sofrendo muito, com margens baixas e volumes em queda,” diz uma fonte do setor. “Tanto a Natural One quanto a Bela Ischia são 100% suco e sem açúcar adicionado. São produtos de nicho, o único segmento que vem crescendo e com margens boas.”
A tendência das grandes empresas de bebidas de buscar um portfólio mais saudável começou quase 10 anos atrás, quando a Coca-Cola fez um cheque de US$ 4,1 bilhões pela Vitaminwater, uma marca de água aromatizada nos EUA.
Mais ou menos na mesma época, a Coca e sua engarrafadora no México, a Coca-Cola FEMSA, compraram a Jugos del Valle por cerca de US$ 380 milhões.
De lá pra cá, a corrida em direção a produtos saudáveis só cresceu e, mais recentemente, em dezembro de 2015, a Leão Alimentos, sociedade entre a Coca e seus engarrafadores no Brasil, comprou a Verde Campo, fabricante de iogurtes, queijos e bebidas derivadas de leite.
Em abril de 2016, a Ambev marcou sua entrada no mercado de sucos ao comprar a marca do Bem, que produz sucos, chás embalados e barras de cereais.