PETRÓPOLIS – No começo é a vista.

Daqui da varanda da Casa Marambaia surge um dos jardins mais lindos que já vi na vida, obra do talento de Burle Marx e da natureza exuberante do Parque Nacional da Serra dos Órgãos.

É difícil saber onde acaba o jardim e começa a floresta virgem.

Neste cenário, o desafio passava a ser a comida – e a expectativa era grande: iríamos provar pela primeira vez a recém-inaugurada Bonaccia Osteria, a nova casa do estrelado chef carioca Rafa Costa e Silva numa das pousadas mais sofisticadas da Serra Fluminense.

Para quem não está ligando o nome à pessoa, Rafa Costa e Silva comanda no Rio o Lasai, uma das únicas cinco casas a ostentar duas estrelas Michelin no Brasil.

Com um balcão para apenas 12 comensais por noite, o Lasai surpreende pela cozinha inovadora e pela maestria no uso de vegetais nos pratos.

Bonaccia Osteria 3

Apesar da origem idêntica de seus nomes (ambos significam “tranquilo”, em basco e italiano), Lasai e Bonaccia não poderiam ser mais diferentes.

A nova casa reflete as raízes italianas do chef e tem uma pegada mais tradicional, com pratos clássicos da culinária da península. O que os une é o DNA de Costa e Silva: o uso criativo de vegetais, cuidado na execução e ingredientes de primeira qualidade.

“Produzimos nossas massas e a charcuteria na própria casa, aproveitando a estrutura da pousada,” explica o chef, que podia ser visto no comando da máquina de fatiar frios em pleno salão do restaurante, no primeiro fim de semana de funcionamento do Bonaccia.

O cuidado e a dedicação começam já nas entradas. Por sugestão do chef, provamos o Porri Brasati, composto por alho-poró preparado na brasa, fonduta de queijo, avelã e vinagrete de balsâmico. 

Não seria uma entrada que eu pediria normalmente, mas passou a ser obrigatória para mim em qualquer nova visita ao Bonaccia. Levemente tostado, o alho-poró agrega uma acidez elegante ao prato e é abraçado pela cremosidade da fonduta de queijo e da avelã.

“É a entrada que eu acho que vai ser a menos pedida, mas é a que sempre indico,” diz o chef.

Completamos as entradas com arancinis recheados com embutidos e o queijo italiano scamorza e acompanhados de molho de tomate levemente picante, que estavam crocantes por fora e cremosos por dentro. E ainda com uma porção de crudo de atum, em que a salinidade natural do peixe combina com a acidez e o doce da laranja.

Na seleção dos pratos principais, a recomendação do chef trouxe duas opções intensas. A primeira foi um bem servido Ossobucco alla Milanese, em que a carne é cozida no próprio caldo e acompanhada por risoto de açafrão e uma salsa verde com pegada espanhola.

Bonaccia Osteria 2

A segunda sugestão foi outro ponto alto do almoço: o Tortelli di Manzo, massa recheada de carne de Angus e acompanhada de molho meloso de sabor intenso e salada de ervas. “Esse é o molho que dá mais trabalho para fazer, porque leva 48 horas para ficar pronto,” me disse Costa e Silva.

Para a sobremesa escolhemos um Tiramisú –  feito na hora e extremamente leve e sutil – e a Panna Cotta, com chocolate branco, figo fresco, mel e sorvete de iogurte‌ feito na casa.

Os preços no Bonaccia obviamente não são baratos, mas estão em linha com os bons italianos do Rio e São Paulo. Na carta de vinhos, uma boa surpresa: opções para todos os bolsos, com garrafas começando na casa dos R$ 170, uma raridade hoje em dia neste País‌.

Situada numa casa de fazenda dos anos 40 incrustada na natureza da Serra Fluminense, a Casa Marambaia já valia a viagem por si só. Agora, ganhou um restaurante à altura e um chef com brilho nos olhos. “Já estou trabalhando em novidades!” disse Costa e Silva, mostrando aos clientes uma espetacular Bistecca alla Fiorentina que deve entrar na carta em breve.

Flávio Ribeiro de Castro ama comer e beber bem.

As imagens são de Rubens Kato.

Bonaccia Osteria 1