Em seu primeiro resultado depois do IPO, o Nubank mostrou saúde em diversas métricas – do engajamento ao número de clientes à inadimplência sob controle – catapultando a ação em mais de 10% no pre-market.
No entanto, alguns analistas mostraram preocupação com o crescimento da carteira de crédito mais arriscado em meio a um ambiente econômico complexo.
No 4T21, o “Nu” adicionou o número expressivo de 5,8 milhões de clientes e fechou o ano com 53,9 milhões, um crescimento de 62% em relação a 2020. (O Brasil concentra 97% dos clientes, a operação no México tem 1,4 milhão e a Colômbia, 114 mil.)
A receita média mensal por cliente ativo aumentou de US$ 3,30 no 4T20 para US$ 5,60, enquanto o custo médio mensal de atendimento por cliente ativo despencou 20,4% para US$ 0,90 no 4T21 – ficando em US$ 0,80 para o ano como um todo.
A taxa de atividade – o número de clientes ativos mensais divididos pelo total de clientes em uma data específica – cresceu 10,7 pontos percentuais para 76,3%, com um total de 41,1 milhões de clientes ativos no final do ano. O Nubank estimou que mais de 55% de seus clientes ativos há mais de um ano adotaram o Nubank como seu banco principal.
O valor total das transações com os cartões de crédito e débito do banco atingiu US$ 14,3 bilhões no 4T21, um aumento de 88,2% em relação ao mesmo tri de 2020, ajudado pelo aumento da base de clientes e o amadurecimento das safras de clientes atuais.
As despesas com provisões para perdas de crédito subiram 258% para US$ 199,6 milhões no 4T21 em relação ao mesmo tri de 2020. No ano, a alta foi de 288% para US$ 480,6 milhões – pressionando a lucratividade.
Os analistas do JP Morgan disseram que a provisão mais alta não pareceu motivada por uma piora da qualidade dos ativos, e sim por conta dos modelos de perda de crédito esperado.
A inadimplência nos empréstimos pessoais ficou abaixo das médias históricas e do setor. A inadimplência de 15 a 90 dias saiu de 2,3% no 3T21 para 2,6% no 4T21 – a média do setor foi de 3,4%. Nas operações de prazo acima de 90 dias, ela saiu de 3,4% para 3,5% – o setor registrou 5%.
O Nubank fechou o ano com uma carteira de crédito de US$ 6,5 bilhões, praticamente o dobro do ano anterior. Em relação ao 3T21, o crescimento foi de 25%.
Do total da carteira, 78,5% estão em recebíveis de cartões; e 21,5% – ou R$ 1,4 bilhão – em empréstimos pessoais, mais arriscados
Só no 4T21, o crescimento desse crédito clean foi de 55% – o Nubank emprestou quase US$ 500 milhões nesse tipo de crédito, que tem taxas mais altas e, portanto, impulsiona as receitas, mas não tem garantias.
“Se o banco está crescendo tanto numa carteira tão arriscada, mais à frente a inadimplência pode aparecer. Por outro lado, se ele não crescer tanto, ele não justifica o valuation atual, que implica muito crescimento,” disse um gestor que está short no papel.
O BTG Pactual ecoou a preocupação com o Nubank continuar crescendo empréstimos pessoais e cartão de crédito em um ambiente de inflação e juros muito mais altos – e uma eleição presidencial pela frente. Para o analista Eduardo Rosman, a estratégia do Nubank parece “muito corajosa para dizer o mínimo,” e “o tempo dirá se compensa ou não.” Rosman reiterou sua recomendação de venda.
O CEO David Vélez disse que o banco está monitorando de perto a carteira e espera alguma deterioração, lembrando que já enfrentou momentos adversos no Brasil, como no início da pandemia. Mas uma eventual piora da economia este ano vai pegar o Nubank extremamente bem capitalizado, já que os recursos do IPO estão “praticamente intocados,” disse David.
O COO Youssef Lahrech disse que se as condições econômicas se deteriorarem, o Nubank tem condições de agir com rapidez para puxar o freio no crédito.
A receita do banco foi de US$ 636 milhões no 4T21, um aumento de 224% em relação ao 4T20. Em 2021, a receita foi recorde, de US$ 1,7 bilhão (+130%).
No trimestre, o Nubank teve prejuízo de US$ 66,2 milhões, 38% inferior ao registrado no 4T20. Em 2021, o prejuízo foi de US$165,3 milhões, com queda de 3,6%.
O banco também divulgou um lucro ajustado pela remuneração baseada em ações e o programa Nu Sócios, que distribuiu ações para seus clientes no IPO. Sem esses efeitos, o Nubank teve seu primeiro resultado positivo, com lucro de US$ 6,6 milhões em 2021, ante um prejuízo de US$ 26,8 milhões em 2020.
Update: depois de abrir em alta, a ação do Nubank virou, operando o dia no vermelho, e fechou com queda de mais de 14%.