O Nubank superou as expectativas em receita e número de clientes no segundo tri, ao mesmo tempo em que desacelerou a concessão de crédito e viu a inadimplência continuar sua escalada.

Os investidores gostaram: a ação avançava 12% no início do pregão.

O fundador e CEO David Vélez disse ao Brazil Journal que este “talvez tenha sido o melhor trimestre da história do Nubank” por conta da expansão muito forte em diversas métricas.

11315 6377ca58 daff 3114 edfb 45cb5d4ee6ccA receita do Nu bateu novo recorde e ficou em US$ 1,2 bilhão, com alta de 230% na comparação anual. A receita média por cliente ativo (ARPAC) aumentou de US$ 4 para US$ 7,8 por cliente. O custo de serviço por cliente ativo ficou estável em US$ 0,80.

O Nu continuou uma máquina de atrair clientes: conquistou mais 5,7 milhões no trimestre e agora tem 65 milhões  – mais de 80% deles, ativos, um percentual recorde. Quase 35% da população adulta brasileira é cliente do Nubank.

David disse que os números mostram que a estratégia  ‘multiproduto’ está tendo êxito  – além de conta corrente, empréstimo pessoal e cartão de crédito, o Nu está crescendo em seguros, investimentos e no atendimento a PMEs.

A margem financeira saiu de 6% para 9,7% em 12 meses.

“Estamos conseguindo repassar o aumento dos juros para os clientes e, como temos nosso próprio funding, aumentamos a margem financeira, o que é bastante importante nesse ambiente de juros altos,” disse o CEO.

A reprecificação do crédito pessoal também ajudou no crescimento da receita, já que o Nubank “reajustou e moderou” o crescimento da carteira de crédito pessoal, diante da “perspectiva de curto prazo mais incerta para a economia brasileira”.

De um trimestre para o outro, a precificação média do crédito pessoal passou de 4% ao mês para 5,6%.

A carteira de crédito cresceu modestos 4,5% de US$ 8,8 bi no primeiro tri para US$ 9,2 bi no segundo. Já do 4T21 para o 1T22, a alta havia sido de 33%.

O crédito pessoal continuou respondendo por 23% da carteira e saiu de US$ 2 bi para US$ 2,1 bi. E o cartão de crédito cresceu de US$ 6,8 bi para US$ 7,1 bi.

O sellside reconheceu a forte performance operacional, mas está atento à piora da qualidade da carteira – e o assunto dominou a conference call do banco ontem à noite.

O Nu alterou a metodologia de writeoff para sua carteira de crédito pessoal para “alinhá-la aos padrões IFRS” e para ser “mais conservador,” disse o CEO.

A partir do segundo tri, o banco passou a ‘baixar’ os empréstimos pessoais em atraso em 120 dias, em vez dos 360 dias até então habituais. Nos cartões de crédito, o writeoff permanece em 360 dias.

Pelo novo método, o NPL + 90 dias subiu 0,60 ponto para 4,1% em relação ao primeiro tri. Usando o método anterior, a alta teria sido o dobro – 1,2 ponto – para 5,4%, percentual só inferior aos 6,1% atingidos no pico da pandemia.

Um gestor não perdoou:  “O Nubank tem que subir mesmo pela capacidade de inovação deles! Dessa vez, inovaram a forma de calcular a inadimplência.”

O NPL 15-90 dias do Nu se manteve estável em 3,7% na nova metodologia; e cairia a 3,6% pelo critério antigo.

O banco disse que o resultado da inadimplência veio dentro do esperado.

No Itaú BBA, o analista Pedro Leduc disse que o risco de crédito está aumentando mais rapidamente que o esperado, e isso tem implicações para a monetização de clientes de médio prazo. Para ele, os múltiplos de 4,5x P/B e 36x P/E ’23 do banco “ainda não consideram uma desaceleração ou um “mercado endereçável menor” para produtos de crédito.

No Bradesco BBI, o analista Gustavo Schroden está cauteloso com a sustentabilidade do crescimento do banco, especialmente porque a reprecificação de empréstimos deve pesar sobre a receita de clientes.

Para Eduardo Rosman, do BTG, a fotografia do trimestre ”ficou boa”, mas os NPLs deterioraram acima do esperado e acenderam uma luz amarela em relação à qualidade do crédito.

Rosman nota que o Nubank vale hoje na Bolsa US$ 21,5 bilhões – praticamente o mesmo que o Santander ou o Banco do Brasil; e quase 2x a XP  – num momento em que os grandes bancos têm mais exposição relativa ao crédito corporativo, cuja inadimplência é menor que a da pessoa física.

“Assim, mesmo que o Nu continue a superar seus pares, ele também deverá ter a carteira mais afetada, devido ao seu mix”, escreveu o BTG. Ainda que o valuation tenha ‘melhorado’ em relação ao IPO, o BTG disse que ele quase não deixa espaço para
erro.

No JP Morgan, o analista Domingos Falavina disse que o Nu pisou no freio, especialmente em empréstimo pessoal, o que vê como  “uma sábia  decisão a longo prazo”. Mas o analista diz que a questão é como esse plano se encaixará nos modelos de investidores de crescimento/tecnologia, que podem ter expectativas de crescimento mais altas.

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Além dos números, o  Nubank anunciou que está promovendo Youssef Lahrech – um veretano que passou 20 anos na Capital One e é COO do Nu desde 2020.

Agora, ele passa a acumular a função de presidente, reportando-se a David. O fundador segue como CEO, mas vai priorizar a estratégia de longo prazo, com o desenvolvimento de produtos, novos mercados e aquisições; Youssef focará no dia a dia.

Cristina Junqueira, co-fundadora e CEO do Brasil, também assumirá a posição de diretora de crescimento, gerenciando as operações e estratégias de crescimento com foco no cliente em Brasil, México e Colômbia.