A união entre Fleury, Beneficência Portuguesa e Atlântica Hospitais para a criação de uma empresa especializada em oncologia piorou o cenário para a Oncoclínicas ao trazer mais um competidor para o segmento – em particular em São Paulo, uma praça onde a rede mineira praticamente não está.

Perto das 13h, a ação da Oncoclínicas caía 4,3%; a do Fleury subia 0,8% e o Ibovespa recuava 1,3%.

Pelo acordo, cada um dos parceiros do novo grupo –  uma rede de clínicas especializadas no tratamento coordenado do câncer – terá participação igual no novo negócio. O investimento previsto é de R$ 678 milhões em cinco anos – o Bradesco é o principal acionista do Fleury, como 29,9%, e tem o controle da Atlântica.

Um analista do setor disse que um diferencial da parceria é já trazer o médico, via Beneficência Portuguesa, mas se mostrou cauteloso quanto ao ritmo de execução.

“O negócio é bem feito mas pode andar devagar. Há um banco como acionista relevante, não há controle definido, não se sabe qual será o novo nome, nem qual será a governança. A chance de atritos entre eles existe”, disse o investidor.

Para outro gestor, o negócio sublinha o aumento da concorrência no segmento – além da nova empresa, Rede D’Or e Dasa têm colocado cada vez mais foco em oncologia.

“A Oncoclínicas ainda não tem presença relevante em São Paulo e parece que vai ficar cada vez mais difícil abrir clínicas e atrair médicos. São Paulo é a praça que responde por 50% do PIB do Brasil e tem a maior penetração de planos de saúde, além de ser foco para um consolidador nacional,” disse o gestor.

No Citi, o analista Leandro Bastos estima o mercado endereçável de oncologia ambulatorial (infusões e radioterapia, excluindo cirurgias, internações e serviços de imagem) entre R$ 16 bi e R$ 18 bi.

A ação Oncoclínicas já havia caído 7% ontem, depois que o balanço do primeiro trimestre mostrou prejuízo e um aumento da alavancagem. A empresa teve uma redução de caixa de quase R$ 700 milhões no período – R$ 450 mihões por conta de aquisições e cerca de R$ 200 milhões em capital de giro.

A governança da Oncoclínicas também vem preocupando os analistas. Menos de um ano após o IPO, realizado em agosto de 2021, a Oncoclínicas trocou de CEO e de CFO.

Em outubro passado, o fundador Bruno Ferrari assumiu o posto de CEO e, em abril, Cristiano Camargo, que ocupava a diretoria de estratégia e de RI, assumiu o cargo de CFO. Cristiano trabalhou por 14 anos na Goldman Sachs, onde era o managing director da operação de private equity, que controla a Oncoclínicas com 62%.