A Gerdau escolheu Gustavo Werneck como CEO, marcando a primeira vez que um Gerdau Johannpeter não comandará a empresa familiar de 116 anos.
Werneck, o atual CEO da operação brasileira da siderúrgica, substituirá André Gerdau em 1 de janeiro. André continuará a ocupar seu assento no conselho, e Claudio Johannpeter permanece como chairman.
A troca de guarda coloca no comando da Gerdau um executivo de 44 anos — 13 dos quais vividos na companhia — e conhecido por um estilo energético e a capacidade de bater metas.
E, talvez mais relevante para uma indústria que luta contra desafios estruturais, Werneck liderou diversas iniciativas de inovação digital, inéditas num setor comoditizado que frequentemente não conversa com tecnologia.
Mineiro de Belo Horizonte, Werneck é formado em engenharia mecânica pela UFMG e fez MBAs em gestão no Insper e na FGV, além de cursos de aperfeiçoamento no INSEAD, Harvard Business School, Kellogg e London Business School.
Carateca nas horas vagas, o novo CEO começou na Gerdau como gerente de engenharia na Cosigua, no Rio, e mais tarde liderou as fábricas do Paraná, Bahia, Pernambuco e Pindamonhangaba.
Em seguida, passou um ano e meio na Índia, onde fez o ‘turnaround’ da operação. Retornou ao Brasil como diretor corporativo de TI e mais tarde assumiu toda a operação brasileira, o que o pôs no comando das áreas de aços longos, planos e mineração — e de 43% da geração de caixa da empresa.
Ao anunciar o sucessor, André Gerdau disse que, em todas as posições que ocupou, Werneck “venceu importantes desafios, alavancou resultados e construiu equipes de alto desempenho, a partir de um perfil de gestão inovador e de energia contagiante.”
Nos últimos anos, com o mercado internacional de aço afogando em excesso de capacidade instalada, a Gerdau tentou injetar eficiência no negócio abraçando uma agenda de inovação tecnológica, um esforço liderado por Werneck.
Uma dessas iniciativas foi um acordo com a GE para utilizar inteligência artificial no aumento da produtividade.
Como resultado deste acordo, a Gerdau instalou mais de 30 mil sensores no maquinário pesado de suas 11 plantas no Brasil. Os sensores — que monitoram a performance das máquinas em tempo real 24 horas por dia — transmitem os dados de performance para os técnicos numa central equipada com o software da GE. Os dados permitem antecipar falhas em equipamentos, realizar análises e obter insights sobre o estado das máquinas como, por exemplo, saber se o nível de trepidação está desviando da série histórica.
A Gerdau estima que o novo sistema — 70% já implantado — pode aumentar o ciclo de vida útil dos equipamentos em até 20%. (Até o momento a empresa já contabilizou mais de R$ 6,3 milhões entre custos evitados e aumento de produtividade.)
Um outro projeto, chamado Usina Digital, usa drones para conferir o inventário: os drones sobrevoam e medem o volume de sucata estocado. Assim, um processo que era feito em três dias agora é feito em 7 minutos.
A própria recepção da sucata mudou. Quando a sucata não chega com a qualidade esperada, o funcionário da Gerdau agora usa um smartphone para tirar uma foto e contestar o fornecedor em tempo real. Antes, o processo envolvia uma ligação telefônica e a descrição verbal do problema.
O uso de smartphones reduziu em 93 horas/mês — ou 4 horas por dia — o processo de classificação de sucata, permitindo ao funcionário dedicar mais tempo à operação e acompanhar os processos com menos interrupções.
O anúncio de Werneck veio no mesmo dia em que a Procuradoria da República no Distrito Federal denunciou o ex-diretor jurídico da Gerdau, Expedito Luz, um consultor de contabilidade da empresa, Raul Schneider, e um ex-executivo, Marco Antônio Biondo, por corrupção na Operação Zelotes.
O MPF acusa os executivos de terem acertado o pagamento de R$ 40 milhões em propinas a advogados e ex-conselheiros do Carf para conseguir decisões favoráveis em cinco processos da Gerdau que passam de R$ 4 bilhões em valores atualizados.
André Gerdau foi indiciado neste caso, mas não houve oferecimento de denúncia.
Na semana passada, o MPF denunciou o líder do governo no Senado, Romero Jucá, e Jorge Gerdau Johannpeter pelo pagamento de propinas em troca da atuação de Jucá na edição de uma Medida Provisória.
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Resposta da Gerdau aos eventos da Zelotes:
· Tão logo foi notificada da Operação Zelotes, que investiga se contribuintes pessoas jurídicas tentaram influenciar as decisões do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF), prontamente esclareceu que não se tratava de sonegação, pois a Gerdau buscava, tão somente, o exercício legítimo de direito respaldado nas leis e na jurisprudência. Para isso, firmou contratos com escritórios externos para assessorá-la nos processos administrativos no âmbito do CARF, com a inclusão de cláusulas que determinam absoluto respeito à legalidade e cujo descumprimento acarreta a imediata rescisão.
· Nenhuma importância foi paga ou repassada aos respectivos escritórios externos e os contratos foram rescindidos quando os nomes dos prestadores de serviço investigados foram veiculados na imprensa por suspeitas de ações ilícitas.
· A Gerdau jamais concedeu qualquer autorização para que seu nome fosse utilizado em pretensas negociações ilegais, repelindo veementemente qualquer atitude que tenha ocorrido com esse fim.
· Os valores que envolvem a Companhia com relação ao tratamento tributário dos lucros gerados no exterior e à dedutibilidade do ágio, que motivaram os processos mencionados, têm divulgação nas notas explicativas das Demonstrações Financeiras da Companhia.
· A Empresa reitera, portanto, os esclarecimentos publicados no dia 25 de fevereiro de 2016 e em Fato Relevante no dia 18 de maio do mesmo ano.
A Gerdau registra mais uma vez, como empresa de 116 anos de atuação, que possui rigorosos padrões éticos na condução de seus pleitos junto aos órgãos públicos, bem como irá defender firmemente, em todas as instâncias processuais, a legitimidade e lisura de seus atos. Ressalta, ainda, que atesta a seriedade e lisura dos executivos e ex-executivos mencionados e está, como sempre esteve, à disposição das autoridades competentes para prestar os esclarecimentos que vierem a ser solicitados.