Os acionistas da Enauta estão propondo mudanças relevantes no conselho da empresa, reduzindo o poder do grupo Queiroz Galvão e marcando uma nova fase na petroleira.
Na nova composição, a Queiroz Galvão — que ainda tem 44% do capital da companhia — terá apenas dois representantes no conselho, enquanto os outros cinco serão independentes.
As mudanças vêm duas semanas depois da Jive e da Vinci SPS – o braço de special sits da Vinci – se tornarem acionistas da Enauta por meio da conversão de dívida em equity. A Queiroz havia dado as ações da Enauta em garantia para tomar empréstimos junto aos bancos em 2019. (Os fundos compraram os créditos do Itaú.)
Com esse primeiro movimento, a Jive passou a ter 16% do capital da Enauta, tornando-se o segundo maior acionista, enquanto a Vinci SPS ficou com outros 3%.
Ainda há mais dívidas da Queiroz Galvão no mercado que podem ser convertidas, potencialmente reduzindo ainda mais a participação da Queiroz Galvão na petroleira. Segundo uma fonte, se toda a dívida for convertida, a participação da Queiroz Galvão cairia para menos de 10% do capital.
Os três credores mais relevantes são o Bradesco, Santander e BNDES, mas as próprias Jive e Vinci já sinalizaram interesse em comprar mais dessas dívidas para aumentar sua participação.
O novo conselho, anunciado quinta à noite, terá apenas dois representantes da família: Antônio Queiroz Galvão e Ricardo de Queiroz Galvão.
Do lado dos independentes, continuam no board Mateus Tessler, um sócio da JIVE que já havia ocupado o assento há cerca de um mês, e Luiz Costamilan, um veterano do setor que foi CEO da BG Brasil.
Também foram indicados: Bruno Baratta, o head do Brasil da Houlihan Lokey, a boutique americana de M&A; Fábio Pinheiro, um ex-sócio do BTG que hoje é conselheiro de diversas empresas; e Ana Marta Veloso, uma veterana do setor de energia que foi CEO da Light.
Antes, a Queiroz tinha cinco assentos dos sete do board.
A influência dos novos acionistas já se refletiu na troca do CFO. No começo de maio, a companhia anunciou a chegada de Pedro Medeiros para substituir Paula Vasconcelos, que estava há dez anos na Enauta.
As mudanças no board acontecem no momento em que a Enauta executa uma expansão relevante em seu principal ativo, o Campo de Atlanta, localizado em águas profundas da Bacia de Santos.
Atlanta produz uma média de 10 mil barris por dia, e a meta da companhia é levar essa produção para 50 mil/dia.
Para isso, a Enauta comprou um FPSO mais novo e moderno, que está sendo reformado em Dubai e deve chegar no primeiro trimestre de 2024.
A companhia também está fazendo novas perfurações no campo, que devem ajudar a aumentar a produção.
“A ideia é primeiro focar em Atlanta, que é um projeto que demanda muito capex nesse primeiro momento mas depois vai gerar muito caixa,” disse um investidor. “Dá para pegar esse caixa e alocar, por exemplo, em M&As.”
Apesar da Petrobras já ter deixado claro que não está vendendo mais nada, a Enauta também vê oportunidade de comprar ativos de outras empresas independentes do setor, tanto no Brasil quanto no exterior.
Com o papel negociando ao redor de R$ 12,50, a companhia vale R$ 3,3 bilhões na Bolsa, o menor market cap, a menor liquidez e os menores múltiplos do setor.