Há vários anos pessoas me pedem para escrever algo inspirador no Dia Internacional da Mulher. Sempre desconversei nestes casos, mas só recentemente entendi o porquê.  Eu sentia insegurança para falar sobre os desafios que as mulheres encontram, principalmente por saber que sou uma mulher privilegiada, que cresceu em uma família de classe média alta, teve acesso à educação particular e a uma grande estrutura familiar – ao contrário da maioria das mulheres ao redor do mundo, que vivem realidades diferentes.

Ainda em 2022, as mulheres enfrentam múltiplos desafios no mercado de trabalho, na educação e até mesmo dentro de casa. Por conta disso, decidi escrever para tentar sensibilizar o leitor sobre a importância de combater essa doença social.

Olhando as estatísticas e a história da mulher no mundo, a realidade impressiona. Como assim até 1962 as mulheres eram consideradas propriedades do marido e não podiam trabalhar, possuir bens ou ter conta em banco? Como assim só puderam se divorciar em 1977? Como assim até 1920 nos Estados Unidos e 1932, no Brasil, as mulheres não tinham direito a votar? E quem iria governar pelos seus direitos, já que elas não tinham direito a voto? E, ao mesmo tempo, como essas mulheres, mesmo desprovidas de acesso à educação e lutando contra tanta desigualdade conquistaram tanto?

É admirável que até 1880 mulheres não pudessem sequer frequentar faculdade, e hoje sejam maioria no ensino superior do Brasil. E que apesar de todos os desafios, mulheres ao redor do mundo já ocupam cargos públicos, lideram empresas, realizam projetos de pesquisa, empreendem, criam e vão até para o espaço.

Ainda há muito a ser feito, mas é importante começar por agradecer e celebrar todas as mulheres que precederam a nossa geração e que contribuíram para o avanço dos nossos direitos. Elas foram fundamentais para que hoje eu pudesse escolher minha profissão, meu estado civil, e tenha a liberdade de fazer inúmeras escolhas pessoais.

Essas mulheres tomaram grandes riscos: se expuseram socialmente e foram criticadas, condenadas e muitas vezes achincalhadas por lutar pelos seus direitos e os de futuras gerações.

Outras lutaram de maneira mais silenciosa, em trincheiras particulares: focaram na sua educação pessoal, enfrentaram os desafios de uma carreira, quebraram paradigmas, empreenderam e até mesmo abriram mão da sua própria educação para que suas filhas pudessem estudar.

Além de terem alcançado conquistas práticas importantíssimas para a sociedade, essas mulheres conseguiram algo ainda mais mágico: inspirar meninas que sonhavam em ser mulheres autônomas, donas de seu próprio nariz.

Ainda há uma agenda pesada à frente para que as mulheres tenham os mesmo direitos que os homens em países desenvolvidos – nos menos desenvolvidos, essas diferenças de gênero tendem a ser ainda maiores.

Mas hoje deve ser também um dia de celebração, e é inegável que a mulher agora tem mais espaço em todos os setores da economia do que em qualquer momento da História, e que, mesmo que as coisas ainda não sejam como gostaríamos, pela primeira vez a geração que entra no mercado de trabalho encontra tantas líderes femininas.

Ano passado, ao fazer um discurso no lançamento de uma oferta pública na B3, alguns dos presentes se mostraram empolgados: para muitos, era a primeira vez que viam uma mulher discursando ali. Um colega me disse estar emocionado porque suas filhas estavam assistindo aquela novidade. Em nossa luta para ocupar todos os lugares, esses pequenos passos podem nos levar longe.

Por fim, cabe agradecer o apoio que eu e outras mulheres recebemos de muitos homens, que nos empoderam e apoiam, e que entendem que uma sociedade com direitos iguais é uma sociedade melhor para todos. O papel de vocês é fundamental, e torço para que vocês sejam uma inspiração para outros homens à sua volta.

A inspiração é um dos maiores presentes que alguém pode receber na vida, porque faz a pessoa enxergar o que não via e acreditar no que não achava possível.

Beta Antunes é head of growth na Hashdex e conselheira do Todas Group, uma plataforma de desenvolvimento de lideranças femininas.