“Nossa missão é evitar uma catástrofe,” afirmou no início da noite de hoje o novo ministro da Economia da Argentina, Luis Caputo. “Se seguirmos como estamos, vamos para a hiperinflação.”
Em um pronunciamento gravado, Caputo acaba de apresentar as primeiras medidas do plano econômico do novo governo.
“Somos viciados em déficit. Esta é a raiz de todos os nossos problemas,” disse Caputo. “Estamos diante de uma oportunidade histórica: a sociedade entendeu que no hay más plata.”
Caputo prometeu atacar as causas, e não as consequências dos desequilíbrios econômicos. “Se a solução fosse reestruturar a dívida, seríamos a Suíça,” disse o ministro. “Já fizemos isso nove vezes.”
Entre as listas de medidas anunciadas estão a suspensão de licitações e a não renovação de contratos de trabalho com o Governo que sejam inferiores a um ano. Haverá também corte de subsídios na energia e nos transportes, bem como a redução das transferências para as províncias.
O porta-voz de Milei já havia anunciado hoje pela manhã a suspensão das propagandas oficiais por um ano. Disse ainda que haverá um corte de 34% no número de pessoas indicadas politicamente para cargos públicos.
As secretarias federais serão reduzidas de 106 para 54. O total de subsecretarias cairá de 182 para 140.
Em seu primeiro decreto, Milei já havia cortado pela metade o total de ministérios, de 18 para 9.
(Lula assumiu com 37 pastas e já criou mais uma, elevando o total para 38. O recorde nacional pertence a Dilma Rousseff, que chegou a ter 39 ministérios.)
“Hay que achicar o Estado,” defendeu Milei durante toda a campanha, ou seja, o governo precisa encolher.
A meta é diminuir em 5% do PIB as despesas no próximo ano e assim equilibrar as finanças públicas, deixando de usar o Banco Central como uma máquina de imprimir dinheiro para sustentar os déficits.
Caputo disse que o câmbio oficial passará a 800 pesos por dólar, um salto de 118% ante a cotação de 366 que vigorava hoje. A máxidesvalorização vai aproximar a cotação com a praticada no mercado paralelo. O dólar blue era negociado hoje a pouco mais de 1.000 pesos.
O fim de subsídios e a desvalorização cambial terão impacto direto na inflação, que já se aproxima dos 200% ao ano. O último dado oficial, com dados até outubro, mostrou uma variação anual de 143%.
Algumas políticas sociais para a população mais carente foram mantidas e ampliadas.
Esse será um amortecedor social contra a esperada disparada nos preços. Segundo Caputo, a decisão foi “fortalecer os planos que vão direto para as pessoas, sem intermediários, e para aqueles que mais necessitam.”
Passado o período de emergência, disse Caputo, haverá uma eliminação dos controles do comércio externo, como a exigência de licenças para a importação.
Em outro passo na direção contrária ao antigo governo peronista, a chanceler Diana Mondino confirmou que a Argentina retomará o seu processo de ingresso à OCDE, que havia sido suspenso por Alberto Fernández.
Além disso, a chanceler disse que a Argentina não vai ingressar no bloco dos Brics, como desejava Fernández, nem vai fazer parte do Novo Banco de Desenvolvimento – o ‘Banco dos Brics.’
Mas Milei já abriu negociações com a China para renovar os swaps cambiais, apesar de seus discursos inflamados contra a ditadura comunista durante a campanha eleitoral.
Fernández legou um país com reservas internacionais ‘negativas’ – isto é, com obrigações superiores aos depósitos. Os empréstimos emergenciais chineses impediram um colapso ainda mais profundo da economia argentina, que ficou sem moeda forte para importar insumos básicos.
Após a posse, Milei manteve uma reunião com o diplomata chinês Wu Weihua, o representante de Xi Jinping na cerimônia.
Pequim esperou o desfecho da disputa eleitoral para ampliar em US$ 5 bilhões o acordo que havia sido selado com Fernández. O valor poderá chegar a US$ 6,5 bilhões. Antes dessa ampliação, a Argentina já mantinha uma linha de US$ 18 bilhões em swaps com a China.
Sem esses recursos, a Argentina teria dificuldades para honrar as importações e as parcelas de sua dívida com o FMI.