Em 2013, o americano Paul Bragiel interrompeu uma carreira de mais de 15 anos em venture capital e colocou toda sua capacidade analítica — e networking — para realizar seu sonho de criança: competir numa Olimpíada.
Primeiro, ele coletou dados de todos os Jogos desde 1998 e rodou um modelo para descobrir o esporte no qual seria mais fácil se qualificar, chegando no ski cross-country.
Depois — numa manobra que ultrapassa qualquer conceito de ‘disrupção’ — usou sua rede de contatos para obter uma cidadania colombiana, mesmo sem falar uma palavra de espanhol ou ter qualquer vínculo com o país.
Por último, Paul ainda passou quase um ano treinando com os melhores professores do mundo para aprender um esporte que nunca havia praticado — e para transformar o que ele mesmo chamou de “um nerd de computador rechonchudo e fora de forma” num campeão olímpico.
A história terminou num fracasso colossal — com Paul sequer conseguindo se qualificar — mas é um retrato perfeito da personalidade de um empreendedor que fez fortuna com a venda de duas startups e hoje é sócio de várias gestoras de VC espalhadas pelo mundo, da África a Singapura.
Agora, esse investidor excêntrico está colocando um pé no Brasil, criando uma nova gestora em sociedade com Reinaldo Normand, um empreendedor que fundou e vendeu uma startup de games, e Ronaldo Barreto, um ex-Googler que passou mais de 10 anos na big tech.
A gestora — batizada de Niu Ventures — vai investir em rodadas pré-seed com cheques em torno de US$ 250 mil, um espaço hoje ocupado por investidores-anjo ou family and friends.
O fundo, de US$ 10 milhões, pretende aportar capital em 20 startups e reservar parte dos recursos para follow-ons.
A Niu é agnóstica em termos de setores, mas quer investir em “empresas altamente escaláveis baseadas em software” — e, acima de tudo, que tenham sido fundadas por empreendedores fora da curva.
“Nesse estágio do VC, a probabilidade de uma startup pivotar o plano de negócios é muito alta,” Reinaldo, que conhece Paul há mais de 10 anos, disse ao Brazil Journal. “Então, mais importante que as verticais são os fundadores. Investimos na equipe e não no plano de negócios.”
A Niu também se diferencia de boa parte dos fundos por ter uma postura ‘hands off’. “Não fazemos ingerência nas empresas e não queremos assento no conselho. Nossa postura é estar disponível para quando os empreendedores precisarem,” disse Ronaldo. “Somos como um irmão mais velho.”
A Niu já nasce com quatro empresas no portfólio, fruto de investimentos-anjo feitos por Reinaldo e Ronaldo nos últimos meses, e que agora vão ser tombadas para dentro do fundo.
A primeira é a Coodesh, que ajuda empresas a contratar programadores avaliando as habilidades técnicas dos candidatos. A segunda é a Plipag, uma fintech de gerenciamento de pagamentos recorrentes fundada por empreendedores que vieram do Ebanx. Há também a Condofy, um sistema operacional para administração de condomínios que opera como software as a service (SaaS).
Finalmente, a Niu investiu na DataOcean, que desenvolveu um algoritmo que coleta dados de notas fiscais para gerar insights para as empresas sobre seus próprios negócios.
“Eles fazem ‘data science’ em cima dessas informações de notas fiscais que antes eram deixadas de lado,” disse Reinaldo. “Para uma empresa de logística, por exemplo, eles conseguem extrair dados como o custo por km de uma tonelada de carga numa rota específica.”
A Niu é a sétima gestora de Paul, que já fez mais de 400 investimentos em sua carreira — 12 em startups que acabaram virando unicórnios. Suas sete gestoras somam mais de US$ 500 milhões em ativos.
Claramente, como competidor Olímpico, Paul é um ótimo gestor.