Enquanto Elon Musk se esforça para mostrar que seus planos de fechar o capital da Tesla são mais que um blefe, uma nova empresa de carros elétricos pediu registro para listar suas ações em Nova York.

A Nio, uma startup chinesa fundada em 2014 que quer ser a ‘Apple do carro autônomo’, pretende levantar US$ 1,8 bilhão numa oferta que deve testar o apetite do mercado por um nicho que vem crescendo a toda velocidade na China.

A Nio ainda é um bebê perto da Tesla. Lançou seu primeiro modelo – uma SUV elétrica com sete lugares, batizada de ES8 – no ano passado e, até julho, havia entregue apenas 481 unidades, todas na China, somando um faturamento de pouco mais de US$ 7 milhões. Segundo o prospecto da oferta, há pedidos para outros 17 mil veículos.

Mas apesar de ser bem menor que a Tesla, a Nio é uma pedra no sapato de Elon Musk no mercado chinês. O ES8 tem preço de entrada de US$ 67 mil no país, metade do que custa um Model X, o modelo equivalente da Tesla. Um esportivo utilitário ainda mais acessível deve ter as primeiras entregas em 2019, e a terceira geração, batizada de E7, está prevista para 2020. Os carros são fabricados em parceria com a JAC Motors.

A empresa ainda opera no vermelho: em 2017, queimou US$ 759 milhões e, no primeiro trimestre deste ano, outros US$ 502 milhões. Mas tem investidores de peso. Em novembro, levantou US$ 1 bilhão numa rodada liderada pela Tencent, que a avaliou em US$ 5 bilhões. A Sequoia, a Lenovo e a Hillhouse Capital também estão entre os investidores.

Os planos da empresa vão além do carro elétrico.

A Nio quer fazer com os carros autônomos o que a Apple fez com os celulares: privilegiar a experiência do usuário, que não vai mais precisar dirigir e aproveitará melhor seu tempo nas viagens.

O sistema de direção automatizado, batizado de NOMI, já está patenteado, e o carro-conceito, apresentado na SXSW do ano passado, dá uma pista do que deve vir pela frente.

O veículo tem um assento reclinável para que o passageiro possa colocar o sono em dia confortavelmente. Envolto por vidros da lateral ao teto, tem um parabrisa que serve como tela para diversas funcionalidades, mostrando não só o horário de chegada e o melhor caminho como também os melhores restaurantes à sua volta. Uma TV de tela plana dentro do automóvel permite que o motorista veja filmes e faça videoconferências a caminho do trabalho.

Não para por aí. A Nio está desenvolvendo um assistente com inteligência artificial, como a Siri, que vai avisar quando houver alguma necessidade de manutenção no carro e poderá ser conectado a sistema de inteligência também em casa, permitindo que o passageiro controle, do carro, algumas tarefas domésticas.

A equipe de carros autônomos da NIO é liderada por Jamie Carlson, um ex-engenheiro da Tesla que também trabalhou na equipe de projetos especiais da Apple – aquela que, especula-se, também estaria trabalhando em sigilo para desenvolver um carro autônomo. 

Fundada há quatro nos por Bin Li – um executivo que trabalhava na indústria automotiva chinesa –, a Nio tem cerca de 5,5 mil funcionários em Xangai e outros 500 em San José, na Califórnia, onde é uma de 55 empresas que tem permissão do governo para testar carros autônomos. (Enquanto isso, no Brasil…)

Nos Estados Unidos, a companhia é liderada por Padmasree Warrior, uma das mulheres mais poderosas no mundo da tecnologia, com uma passagem de oito anos pela Cisco como chefe de tecnologia e estratégia e outros 23 na Motorola, onde chegou a CTO, além de estar no board da Microsoft e do Spotify.

“Uma das lições que aprendi na indústria de celulares é que foi preciso uma Apple para criar o smartphone: quem liderou a mudança não foram os fabricantes de celulares que existiam por 75, 80 anos como líderes de mercado”, disse ao Business Insider.

O mercado de carros autônomos vai ser disputado tanto por montadoras como BMW e Ford quanto pelos grandes players de tecnologia. Mas Warrior aposta que as montadoras estão muito amarradas aos velhos hábitos para liderar a mudança.

“Elas estão limitadas em construir um ecossistema verdadeiramente digital por causa das relações que já tem com os fornecedores e todo o supply chain”. E ao contrário das gigantes da tecnologia, a companhia pretende vender o veículos para os consumidores finais – e não para o B2B, como frotas e aplicativos de mobilidade, como o Uber.

Curiosidade final: a Nio tem uma equipe que compete na Formula-E, de carros elétricos, e já teve como piloto Nelsinho Piquet.  Seu modelo elétrico EP9 já ganhou como ‘carro de produção’ mais veloz do mundo no circuito de Nurburgring, na Alemanha, deixando para trás um modelo a combustão da Lamborghini.

Agora, a empresa tem que mostrar aos investidores que conseguirá sair na frente na corrida pelo carro do futuro.