O Grupo SBF — dono da Centauro e da Nike Brasil — reportou um EBITDA acima do consenso e um crescimento relevante na margem bruta.

Mas o resultado foi ofuscado por uma queima de caixa de mais de R$ 500 milhões e um lucro raquítico, impactado pelo aumento expressivo das despesas financeiras.

A ação reverteu uma queda de 2% na abertura e estava em alta de 2,5% por volta do meio-dia.

O EBITDA ajustado fechou em R$ 206 milhões, 11% acima do mesmo período do ano passado e quase 20% superior ao consenso.

A margem EBITDA subiu 0,2 ponto, uma expansão pequena mas que marca uma reversão de tendência depois de três trimestres de queda na margem.

No top line, o destaque foi a Fisia (o negócio Nike da empresa), que cresceu as vendas em 17% para R$ 856 milhões. Essa alta foi impulsionada por uma maior participação das vendas D2C, uma nova estratégia de pricing e um portfólio mais assertivo de produtos. 

Já a Centauro cresceu apenas 1% no período, com vendas de R$ 705 milhões. O varejo físico subiu 13%, enquanto as vendas digitais despencaram 30%.

“A queda nas vendas digitais teve a ver com o foco da companhia na rentabilidade, com a redução dos markdowns, otimização do marketing de performance e revisão das regras do ship-from-store,” disse o analista Vitor Pini, do Safra. 

O analista chamou o resultado de um turning point para o Grupo SBF, “especialmente para a Centauro com as melhoras nas margens.”

A margem bruta da Centauro veio em 51,5%, uma alta de 2,9 pontos percentuais na comparação anual. Na Fisia, a margem bruta também teve um crescimento relevante, de 3,7 pontos percentuais, para 43,6%.

No consolidado, a margem bruta do Grupo SBF ficou em 50%, significativamente acima das projeções dos analistas, que esperavam algo próximo de 45%. 

Os resultados acima do consenso têm a ver em parte com a (não) comunicação por parte da companhia. 

O Grupo SBF parou de guiar o mercado depois que o resultado do quarto tri não bateu com o guidance. A falta de guidance gerou uma dispersão relevante nas projeções do sellside.  

Do lado negativo, o Grupo SBF teve um aumento importante das despesas financeiras, que consumiram parte relevante do lucro. As despesas financeiras subiram mais de 3x na comparação anual para R$ 53 milhões. Isso fez com que a companhia entregasse um lucro ajustado de apenas R$ 7 milhões — uma queda de 76%.

O bottom line veio abaixo das projeções de todos os analistas. O Itaú BBA, por exemplo, esperava um lucro líquido de R$ 20 milhões, enquanto o Bradesco esperava R$ 12 milhões e a XP, R$ 37 mi. 

A companhia também teve uma piora significativa do capital de giro, que aumentou quase 40% para R$ 2 bilhões — em grande parte por um aumento dos estoques e da conta de recebíveis. 

Isso fez o consumo de caixa explodir, de R$ 113 milhões um ano atrás para R$ 553 milhões no trimestre. 

A alavancagem do Grupo SBF também sofreu, fechando em 1,98x o EBITDA, em comparação a 0,73x de um ano atrás. 

No Itaú, o analista Thiago Macruz elogiou os esforços da companhia para aumentar a rentabilidade, mas disse que os investidores devem se concentrar nas dinâmicas de fluxo de caixa e na sustentabilidade dos ganhos de margem bruta da Centauro antes de ficarem mais confortáveis com uma retomada do momentum operacional da companhia.

“Não vemos nenhum trigger de curto prazo claro para a empresa, mas vemos a ação negociando a um P/L atrativo de 8,6x,” escreveu o analista.