A Third Point — gestora controlada pelo (às vezes) ativista Dan Loeb — comprou US$ 3,5 bilhões em ações da Nestlé, e vai usar essa posição para pressionar a multinacional suíça a vender ativos não-essenciais, como os 23% que a companhia tem na L’Oréal.
 
Numa carta a investidores publicada neste domingo, Loeb diz que viu na Nestlé “um conglomerado com um potencial não realizado de melhoria de margem e inovação em seus principais negócios; um balanço não otimizado; uma série de ativos não-essenciais; e uma história recente de desempenho abaixo de seus pares. É raro encontrar uma empresa da qualidade da Nestlé com tantas avenidas para melhorias.”
 
A Third Point tem 40 milhões de ações da Nestlé, o que dá 1,25% do capital da empresa, fazendo da gestora o sexto maior acionista, segundo dados da S&P.  Quando se considera o valor inicial da posição, este é a maior caso de ativismo da Third Point desde que a gestora foi fundada em 1995.  A Nestlé data de 1905. 
 
Loeb contratou Jan Bennink, ex-chairman da Sara Lee, como consultor neste investimento.
 
Para Loeb, “na última década, a Nestlé ficou para trás num ambiente em que o crescimento [de seu mercado] diminuiu devido às mudanças nos gostos dos consumidores e nos hábitos de compras, bem como graças ao influxo de nova concorrência de marcas locais e menores. Enquanto seus pares se adaptaram a este mundo de menor crescimento, a Nestlé ficou presa no passado, tornando impossível entregar o outrora confiável ‘modelo Nestlé’ que garantia crescimento de vendas orgânicas de 5-6% anualmente e melhoria contínua da margem. Como resultado, o lucro por ação não cresce há cinco anos. Isso afetou o crescimento do dividendo, que caiu para um dígito baixo nos últimos anos.”
 
O gestor aponta que, apesar de possuir o que talvez seja o melhor portfólio da indústria de alimentos, as ações da Nestlé têm performado abaixo da maioria de seus pares nos EUA e da Europa quando se analisam os retornos para os acionistas em períodos de três, cinco e dez anos. 
 
Nos últimos 12 meses, a história é diferente: a ação da Nestlé está em alta de 15% — batendo a Kraft Heinz e a Mondelez — impulsionada em grande parte pelo otimismo do mercado com a chegada do novo CEO, Ulf Mark Schneider, o primeiro a ser contratado de fora da Nestlé desde 1922.

Loeb elogiou Schneider, que começou na empresa em janeiro, como tendo ‘um histórico impressionante’ de criação de valor enquanto CEO da Fresenius, empresa alemã de fornecimento de medicamentos, onde trabalhou de 2003 a 2016.  Schneider conseguiu turbinar o crescimento orgânico e executou bem M&As que se provaram transformacionais; as ações da Fresenius se valorizaram  20% ao ano sob sua liderança.
 
A demanda mais objetiva de Loeb é que a Nestlé venda sua participação na L’Oréal, que vale cerca de US$ 27 bilhões a preços de mercado, mas ele também quer aquisições que aumentem imediatamente o lucro da Nestlé, sejam complementares à sua linha de produtos e em categorias de alto crescimento.
 
Schneider não parece o tipo de CEO que precisa de sugestões.  Há cerca de 10 dias, ele já colocou à venda o negócio de confeitaria da Nestlé nos EUA — responsável por apenas 3% das vendas da empresa naquele país e cerca de 10% do negócio global de confeitaria da Nestlé.  
 
No campo da inovação, a Nestlé está tentando entender melhor o modelo de assinaturas, o que a levou a investir numa startup que entrega comida em casa. E, mesmo antes de Schneider assumir, a Nestlé já havia se comprometido a cortar até 40% do açúcar de seu chocolate a partir de 2018.