A ação da Neoenergia está subindo hoje — em meio a um mercado em baixa — com os investidores aplaudindo a venda de 50% das oito linhas de transmissão da empresa para o Warrington Investments, um veículo do GIC, o fundo soberano de Singapura.

A transação sublinha o valuation descontado que a Neoenergia está negociando na Bolsa, na visão de alguns analistas do sellside.

A Warrington está pagando R$ 1,2 bilhão por 50% dos ativos, o equivalente a uma TIR real de 7,2%. Já a Neoenergia negocia a uma TIR de 13,5%.

“A venda dos ativos a uma TIR menor deveria significar um potencial re-rating para a Neoenergia, já que o mercado não está avaliando a empresa da mesma forma,” escreveu o analista Henrique Perretti, do JP Morgan.

Em termos de múltiplos, a venda está saindo a 11x EV/EBITDA, enquanto a Neoenergia negocia a 5,3x.

A transação também vai reduzir um pouco a alavancagem da companhia, que fechou o quarto tri em 3,15x EBITDA. A estimativa é que a métrica  caia para cerca de 3x após a venda dos ativos.

O acordo entre as duas empresas também dá ao GIC o direito de adquirir 50% de outras oito linhas de transmissão que estão sendo construídas pela Neoenergia. Além disso, as duas empresas planejam bidar juntas nos futuros leilões de transmissão — o mais próximo está marcado para junho.

Para um analista que cobre a empresa, a venda foi boa e ter um sócio financeiro pode ser positivo para a companhia, mas a animação do mercado com a ação deve ser um ‘voo de galinha’.

“O problema da Neoenergia é que é um case meio esquizofrênico. É uma empresa excelente, com ótimos ativos, mas ela é muito agressiva em leilões,” disse ele. “Ela tem ótimos ativos, mas se a cada seis meses for agressiva em leilões, ela vai ficar destruindo esse portfólio com os novos ativos.”

Essa percepção de agressividade nos leilões começou desde o início da covid. Mais recentemente, ela foi agressiva no leilão da CEB, a distribuidora de Brasília, que ela levou pagando um ágio de 76%. No último leilão de transmissão, em junho do ano passado, a empresa também ganhou algumas linhas com descontos relevantes sobre a RAP (receita anual permitida).

Dado a TIR a que a Neoenergia negocia hoje, esse analista acredita que o melhor investimento que a empresa poderia fazer é comprar a sua própria ação — ou pagar dividendos.

Para este analista, a estratégia da Neoenergia tem um pouco de ‘empire building’, de querer crescer a qualquer custo.

“Eles têm bons ativos, operam bem e têm bons profissionais. O que falta é a consciência de que o que se espera de uma empresa de utilities é uma combinação de crescimento com dividendos.”

No final da tarde, o papel operava em alta de 2,66% a R$ 15,85, com a companhia valendo R$ 19,2 bi na Bolsa.

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