Folheando o jornal numa segunda-feira de outubro de 2015, Douglas Godinho encontrou a resposta para a questão que o atormentava há dois anos, desde que ele se tornara diretor do Pottencial, um banco de Belo Horizonte voltado para clientes corporativos.

Lendo uma reportagem, se encantou com a história da Controly. A startup oferecia um cartão pré-pago acoplado a um aplicativo que monitorava os gastos do usuário, tudo digital. “Achei que poderia ser justamente o que eu estava procurando para reformular o modelo de negócio do Pottencial”, diz. O Pottencial era um banco de nicho, focado na concessão de garantias para pessoas jurídicas.

Godinho ligou para Pedro Conrade, o fundador da Controly. “Quero ir a São Paulo te conhecer.” Uma semana depois, os dois apertavam as mãos para criar o Banco Neon — o mais recente dos chamados bancos digitais, que, se ainda são irrelevantes no dia a dia do usuário, são o assunto mais quente do mundo das finanças e da tecnologia.

Em 2016, há uma espécie de consenso entre os bancos de que é imperativo mudar a forma de pensar e simplificar as operações para atender uma nova legião de consumidores (que se arrepia só de pensar na fila do caixa). Como fazer isso é outra história.

Saído de dentro de uma fintech, o Neon é o primeiro banco brasileiro que nasceu efetivamente digital. Sua arquitetura da informação foi criada do zero. Os programas e sistemas usados pelo banco foram feitos pela equipe de Conrade que, segundo ele, faz tudo pensando “em primeiro lugar na experiência do usuário”.

Nos bancos tradicionais, é praticamente impossível fazer isso. São sistemas antigos, com diferentes bases de dados e tecnologias (muitos bancos foram crescendo por meio de aquisições e nem sempre integraram completamente as operações).

É o que acontece com o Banco Original, o player mais agressivo no Brasil na guerra das instituições digitais. “A cabeça do banco é analógica, eles pensam um banco como se pensava 20 anos atrás”, diz uma fonte do setor financeiro que esteve próxima a Henrique Meirelles durante o processo de estruturação da empresa. Boa parte da equipe veio de bancos tradicionais. O CEO, Jackson Gomes, por exemplo, trabalhou por quase três décadas no Itaú.

Se peca na experiência, o Original ganha no tamanho. Nascido da união do Matone com o JBS, tem hoje R$ 6,6 bilhões em ativos, uma carteira de crédito de cerca de R$ 5 bilhões. Ou seja, está no meio do caminho entre uma fintech e um bancão.

O Neon tem suas limitações.  O banco não vai, por ora, oferecer qualquer forma de crédito a seus clientes, só mesmo uma conta corrente. O foco são jovens (não é necessário comprovar renda) que curtem tecnologia e não dão a mínima para o gerente do banco. Todo dinheiro que estiver na conta será aplicado num CDB que rende 80% do CDI – uma taxa medíocre para qualquer investidor mais qualificado, mas que bate a poupança.

Ontem, a Fitch disse que as fintechs ainda estão longe de ser uma ameaça ao setor bancário brasileiro, altamente concentrado, mas alertou que os grandes bancos precisam repensar suas estratégias sob pena de perder clientes.

Consciente do desafio, mas também de que não é possível transformar totalmente sua estrutura, o Bradesco trabalha num modelo que vai segregar a operação tradicional da digital.

Segundo o repórter Fernando Scheller, do Estadão, o banco deve lançar até o fim do ano uma nova marca — por enquanto chamada Next — totalmente digital, voltada para o público jovem cujo salário não costuma chegar ao fim do mês. Por isso mesmo, será focada na educação financeira e no planejamento para conseguir objetivos como comprar um carro ou pagar a faculdade.

A equipe será totalmente separada do banco e não trará o nome Bradesco na comunicação – apenas no verso dos cartões, uma forma de ajudar o usuário a se sentir mais confortável sobre onde está colocando o dinheiro. Entre os serviços, devem figurar conta-corrente, investimentos e cartão de crédito.

Mas para a Fitch, o maior risco afetando as fintechs não são os grandes bancos, e sim a regulação dos novos modelos de negócios.  “A regulação terá papel fundamental para determinar a taxa de sobrevivência e de competitividade das fintechs no Brasil,” diz a agência. “Como a indústria é relativamente jovem, o quadro regulatório local ainda não está consolidado, o que tem permitido o crescimento do número de empresas, que não estão sujeitas à forte e complexa regulação do setor bancário.”

A agência cita algumas incertezas: “O Banco Central implementou uma série de regras para instituições de pagamento não-bancárias e meios de pagamento em 2013, mas algumas diretrizes ainda não são claras. A regulação de empréstimos P2P (de pessoa para pessoa) é inexistente. … Uma supervisão mais rígida pode aumentar as demandas regulatórias e os custos operacionais do setor, o que afetaria o modelo de negócios de algumas companhias, hoje baseado em custos muito baixos.”