Guilherme Paulus, o lendário fundador das agências de viagem CVC, disse ao Valor na semana passada que pretende investir 1 bilhão de reais em sua GJP Hotels & Resorts para construir 48 hotéis com 7.500 quartos nos próximos cinco anos.

Tem gente que acha que ele está viajando.

Por esse dinheiro, Paulus conseguiria comprar o controle da BHG, a maior empresa do setor listada em Bolsa, e ainda teria um “troco” tão grande que nem merece esse nome.

A BHG, que usa as marcas Tulip Inn e Golden Tulip, tem hoje 9.600 quartos em 51 hotéis — sendo 17 próprios, 25 de terceiros e nove com participação mista. Considerando todos os hotéis em desenvolvimento pela BHG, ela espera chegar a 14 mil quartos ao final de 2016.

A GP Investimentos controla a BHG com 40% do capital. Como a BHG vale R$ 840 milhões na Bolsa, a parte da GP custaria R$ 336 milhões. Pagando um prêmio de, digamos, 20%, Paulus gastaria pouco mais de R$ 400 milhões.

Até agora, essa ideia economizaria R$ 600 milhões para o empresário, mas o buraco ainda é mais embaixo.

Independentemente da BHG poder transformar Paulus num grande player em hotelaria, o problema é que ele está fazendo um movimento tardio num setor onde “só bebe água limpa quem chega primeiro”, nas palavras de um consultor.

“Para se tornar um player de relevância neste mercado, um grupo tem que ter mais do que os 48 hotéis que ele quer ter daqui a cinco anos”, diz este consultor. “As operadoras de viagens corporativas, que são quem manda neste mercado, querem saber logo se tem um Ibis ou um Mercure na cidade. A BHG, com a bandeira Tulip, está tentando entrar nessa lista”.

Outro agravante: as cidades que comportam novos hotéis estão loteadas entre os players já existentes: Accor, Atlântica, Meliá e a própria BHG. Grupos menores como o Slaviero e o Bourbon atacam regiões que conhecem bem. Hoje, a maioria dos novos projetos de hotéis ficam em cidades médias, entre 250 mil e 400 mil habitantes.  “São sempre as mesmas praças”, diz outro executivo do setor. Se não quiser pagar os olhos da cara por terrenos, nem correr o risco de sobreoferta, Paulus ficará limitado a praças secundárias ou regiões menos nobres das capitais.

Por último, mas não menos importante: o mercado hoteleiro no Brasil pode estar na antessala de uma superoferta de quartos.

No ano que vem, seis das 12 cidades-sede da Copa do Mundo deste ano devem estar com um nível de ocupação hoteleira “ruim” ou “crítico”, de acordo com o Placar da Hotelaria 2015, um estudo feito pela consultoria HotelInvest em parceria com o Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (FOHB) e o Senac. (Veja a tabela abaixo)

Neste estudo, um nível de ocupação ruim é definido como aquele em que “os níveis de faturamento e lucro caem a patamares muito baixos e perde-se a perspectiva de rentabilidade dos investimentos realizados”.

Apesar das nuvens negras sobre algumas cidades, Diogo Canteras, sócio-diretor da HotelInvest, explica que não dá pra generalizar. “Setenta por cento do volume de quartos atuais estão em mercados sem perspectiva de sobreoferta: São Paulo, Rio, Fortaleza e Curitiba”.

Começar a investir em hotéis agora está longe de ser um bom negócio óbvio, mas como Paulus não é de rasgar dinheiro — ele conseguiu R$ 750 milhões vendendo 63,6% da CVC para o fundo de investimentos Carlyle — é bem possível que ele esteja enxergando muito além do que o mercado consegue especular.

“Não sabemos o foco que o Guilherme Paulus quer dar para estes hotéis. Se o foco forem hotéis de lazer, ele pode estar dando uma grande tacada”, diz Canteras. “Se o dólar voltar para níveis mais valorizados, esse mercado pode ficar extremamente interessante”.

Em outras palavras: com um dólar mais caro, o brasileiro trocaria as viagens a Miami pelo turismo nacional, reativando a demanda por hotéis de lazer. “Hoje, no dólar atual, não vale a pena fazer nada”.

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