Quatro meses depois de José Luciano Penido renunciar ao conselho da Vale denunciando uma “evidente e nefasta influência política” na empresa, outra conselheira independente decidiu seguir o mesmo caminho. 

Vera Marie Inkster — uma ex-CEO da mineradora canadense Lundin Mining que estava há apenas um ano no board da Vale (e uma das duas mulheres no conselho de 13) — renunciou hoje ao cargo, agravando a crise no conselho devido ao aumento da influência do Governo por meio da Previ.

Marie, que é cidadã canadense, não explicou o motivo da renúncia, mas o Brazil Journal apurou que ela foi agredida verbalmente mais de uma vez por conselheiros alinhados à posição do Governo — o que certamente pesou na decisão.

Há algumas semanas, Marie já havia renunciado ao Comitê de Indicação e Governança, responsável por avaliar nomes para o conselho e o management da empresa, depois de um desses embates.

Ela também fazia parte do Comitê de Auditoria e Risco. 

Com sua saída, o conselho da Vale passa a ter apenas 11 membros, dos quais 6 são independentes: Manuel Oliveira, o ‘Ollie’; Douglas James Upton; Paulo Hartung; Rachel Maia; Marcelo Gasparino; e Luis Henrique Guimarães — que representa a Cosan mas é considerado independente para efeitos regulatórios.

A Previ tem dois representantes — o chairman Daniel Stieler e João Luiz Fukunaga –, enquanto o Bradesco tem um representante (Fernando Buso), a Mitsui outro (Shonji Kumai) e há ainda um representante dos funcionários (André Viana Madeira). 

O Governo, no entanto, tem conseguido cooptar parte importante do conselho — o que ficou claro na votação pela saída do CEO Eduardo Bartolomeo.

Naquela votação, no final do ano passado, seis conselheiros — incluindo o representante do Bradesco e dois independentes (Rachel e Gasparino) votaram pela saída do atual CEO — alinhando-se à Previ.

Vera Marie foi uma das que votou pela permanência de Bartolomeo. 

Sua saída enfraquece a ala contrária à posição do Governo num momento chave para o futuro da mineradora: a escolha do sucessor de Bartolomeo, que vai deixar o cargo no final do ano.

No fato relevante sobre a renúncia de Vera Marie, a Vale disse que o conselho está trabalhando “em sua recomposição e que, num momento oportuno, convocará uma assembleia geral para deliberar a respeito da recomposição.”

Naturalmente, o Governo vai tentar indicar dois membros independentes que sejam alinhados à sua visão — agravando ainda mais a crise de governança na Vale. 

Os maiores acionistas da Vale hoje são a Previ, com 8,7% do capital, a Capital, com 7%, a Mitsui, com 6,7%, a BlackRock, com 6%, e a Cosan com cerca de 4%.