Focada em reduzir sua alavancagem após a fusão com a Fibria e o tombo nos preços da celulose, a Suzano tirou leite de pedra.
A companhia anunciou ontem investimentos de quase R$ 1 bi no Espírito Santo sem ter que botar a mão no bolso. Os recursos virão de créditos de ICMS que a companhia detém contra o Estado.
Do total, a maior parte — R$ 513 milhões — será voltado para compras de florestas no Espírito Santo, próximas à fábrica de Aracruz, em linha com a estratégia da companhia de reduzir os custos com o transporte da madeira. Outros R$ 272 milhões irão para o retrofit da fábrica de Aracruz e mais R$ 130 milhões para a construção de uma fábrica de papel higiênico.
Graças a uma lei estadual aprovada em junho, os créditos de fiscais da Suzano finalmente ganharam liquidez e poderão ser vendidos para outros contribuintes, que podem usá-los para o pagamento de ICMS corrente e dívida ativa, ou para terceiros que queriam fazer investimentos produtivos no Estado.
Com a alavancagem da Suzano próxima das cinco vezes EBITDA e dúvidas sobre a recuperação dos preços da celulose, o investimento no Espírito Santo deve ser o único em capacidade nova.
A palavra de ordem na companhia é enxugar custos e gerar caixa para reduzir a dívida líquida dos atuais US$ 13 bi para cerca de US$ 10 bi.
A companhia já fechou a torneira: o capex para o próximo ano deve ficar em R$ 4,4 bilhões, praticamente em linha com o necessário para fazer a manutenção dos ativos, e bem abaixo dos R$ 5,7 bilhões de 2019.
Na semana passada, a empresa deixou os analistas coçando a cabeça ao anunciar que estava incorporando à empresa terras e a licença de operação necessária para colocar de pé uma fábrica de celulose no Mato Grosso do Sul.
Mas a companhia vem sinalizando que só vai começar e erguer uma nova planta quando — e se — a alavancagem cair abaixo das três vezes e a demanda der sinais mais claros de melhora.
Além disso, a companhia quer levantar R$ 1 bilhão com a venda de ativos não essenciais. Na semana passada, fechou a venda de ativos florestais em São Paulo para a Klabin por R$ 400 milhões — que devem entrar no caixa gradualmente até 2026.
“A venda de ativos é positiva, mas a questão mesmo é se eles vão conseguir desovar os estoques”, diz um gestor.
Depois de falhar na estratégia de precificação no começo do ano, a Suzano se viu sentada em cima de 3 milhões de toneladas de celulose, o dobro da média histórica de 1,5 milhão — e a maior parte está parada nos portos chineses, no quintal dos compradores.
“Na prática, a Suzano estava carregando o estoque para os clientes,” resume um analista.
A tendência começou a se reverter no terceiro trimestre, quando, com os preços da celulose sinalizando um piso, os papeleiros chineses voltaram a comprar e a Suzano conseguiu reduzir o estoque em 450 mil toneladas.
O papel reagiu na Bolsa e sobe 40% desde a mínima de R$ 28 registrada em agosto.
Para os mais otimistas, o valuation da companhia ainda precifica o pior cenário para a celulose, não considera as sinergias que devem vir com a fusão com a Fibria e nem leva em conta o fato de que a empresa gera caixa mesmo nos cenários mais adversos e tem grau de investimento.
Já para os céticos, a hora da verdade deve vir após o Ano Novo chinês, no fim de janeiro. Há um temor de que os compradores estejam apenas recompondo seus próprios estoques para passar pelo primeiro trimestre, quando as negociações esfriam em meio aos feriados.
“Só depois desse período que a gente vai conseguir ver se os compradores só estão colocando estoque para dentro ou se de fato a demanda aumentou e estão usando na produção”, diz o analista. “Se isso acontecer, a tese de desestocagem ganha força.”
Hoje, os preços da celulose estão na casa dos US$ 450/t e, nas contas do mercado, o preço da ação da Suzano embute uma expectativa de preço de celulose cerca de cerca de US$ 550/t.