A SurveyMonkey, que oferece uma ferramenta para pesquisas online, acaba de entrar para a inglória — e cada vez mais longa — lista de empresas de tecnologia que tiveram que abrir mão do valuation para chegar à Bolsa.

Avaliada em US$ 2 bilhões na última rodada de captação privada em 2014, a empresa saiu por US$ 1,5 bilhão no seu IPO na Nasdaq no fim do mês passado — e isso porque a demanda foi maior que a prevista pelos bancos.

Os papéis saíram a US$ 12 cada, um pouco acima da faixa proposta de US$ 9 a US$ 11, e a empresa topou aumentar em 10% o número de ações ofertadas.

Se a SurveyMonkey passasse um questionário a seus potenciais investidores, provavelmente o resultado seria inconclusivo: ninguém parece ter muita clareza de como precificar o papel.

No dia de estreia, no fim de setembro, as ações subiram mais de 40% — fechando o gap em relação ao último round privado, liderado pela Tiger. Mas de lá para cá, já devolveram a maior parte da alta e negociam a cerca de US$ 13.

Para quem busca um negócio resiliente no mundo de alta mortalidade das empresas de tecnologia, a SurveyMonkey é uma sobrevivente. Fundada às vésperas do estouro da bolha das pontocom, ela está viva há quase 20 anos e, apesar de ainda no vermelho, gera caixa.

Em entrevista à CNBC, o CEO Zander Lurie disse que 19% do faturamento se converteu em fluxo de caixa livre nos últimos doze meses. O voto de confiança da Salesforce também foi um impulso para a oferta: o braço de venture capital da gigante de CRM comprou o equivalente a US$ 40 milhões em ações.

Mas quem busca um negócio de crescimento exponencial pode achar que a empresa virou um dinossauro: hoje são 16 milhões de usuários ativos na plataforma, mas apenas 4% (616 mil) são pagantes. As assinaturas responderam por mais de 90% do faturamento de US$ 218 milhões ano passado.

A base de assinantes tem crescido em ritmo lento — ainda mais para os padrões das empresas de tech. No primeiro semestre deste ano, o total de assinantes da plataforma cresceu apenas 3%. A receita subiu 14% no período, em grande parte por conta de um aumento no preço dos planos (cada usuário pagante traz uma receita média mensal de US$ 400).

A SurveyMonkey opera no modelo freemium: oferece um plano gratuito com limitações para atrair o cliente, que depois pode migrar para pacotes pagos com funcionalidades mais avançadas. Além de permitir criar pesquisas e questionários online, a empresa oferece soluções de analytics e uma plataforma chamada enterprise, que é vendida para grandes corporações como a Netflix e a Johnson & Johnson.

Outro ponto de atenção: a concorrência. Quando a SurveyMonkey levantou capital em 2014, o mercado de pesquisas ainda era pulverizado. O Google tinha lançado suas plataformas de pesquisas, o Forms e o Survey, em 2012. Hoje, o Google tem 90% de market share e a SurveyMonkey, a segunda colocada, responde por 5% do setor, que movimenta US$ 4,1 bilhões globalmente.

Os ‘down rounds’ — quando a empresa levanta dinheiro por um valuation menor que o da rodada anterior — normalmente são vistos como um mau sinal, porque diluem os acionistas e mostram que a companhia não conseguiu atender às expectativas.

Mas eles têm se tornado cada vez mais comuns, na medida em que empresas aceitam que alguns valuations foram muito inflados. Quatro anos atrás, quando a SurveyMonkey fez sua última captação, o mercado de startups passava por um boom que acabou tomando muito cavalo de chifre por potencial unicórnio.

Mas um ‘down round’ nem sempre é sinônimo de fracasso — a Square, de meios de pagamento, foi à Bolsa em 2015 com um valuation 50% inferior a sua última rodada privada. De lá para cá, os papéis tiveram uma valorização de mais de 10 vezes.

A SurveyMonkey tem entre seus principais investidores a Tiger, que tinha 29% do capital antes do IPO, e a COO do Facebook, Sheryl Sandberg, com 9,9%. Sheryl é viúva de Dave Goldberg, que foi CEO da SurveyMonkey entre 2009 e 2015 e é tido como o responsável por transformá-la de uma pequena startup em empresa global.

Sheryl está no conselho de administração, que também conta com a tenista Serena Williams.