BRASÍLIA — Recém chegado à capital, o Senador Lucas Barreto está rapidamente se firmando como um dos melhores anfitriões da cidade.

Semanalmente, o representante do Amapá liga seus fogões e prepara um cardápio variado de pratos da Região Norte para seus colegas senadores, deputados e outros convidados.

(O amor pela cozinha rendeu-lhe uma amizade: o chef Alex Atala, seu companheiro de viagens pela Amazônia. Os dois já cozinharam juntos muitas vezes no Amapá.) 

Sem que muita gente perceba, os jantares do senador do PSD estão se tornando um foro onde se costuram grandes acordos e se comemoram outros, como o que autorizou — por unanimidade — o crédito suplementar de R$ 248 bi que manteve o governo funcionando. Os convidados vêm de polos distintos do espectro político e preservam suas diferenças ideológicas, mas todos se rendem à comida típica do Norte e à amabilidade do anfitrião. 10720 cd0d1a53 ee98 4593 897b dc244023ac77

Ontem à noite, horas depois do Congresso aprovar o crédito suplementar, mais de 30 parlamentares passaram pelo apartamento de Lucas. No cardápio: javali, filé de búfalo e filhote ao tucupi e jambu preparados pelo próprio senador, que pessoalmente serviu o prato dos convidados (com os acompanhamentos específicos de cada carne, claro). 

A tropa começou a chegar por volta das 20h30. Um senador trouxe uma cachaça de jambu que amortecia os lábios. Outros, vinho. A alternativa para os abstêmios: suco de graviola. 
 
Antes das 21h30, já conversavam na sala senadores governistas, da oposição, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, o vice, Antonio Anastasia, e presidentes das principais comissões. Figurantes na paisagem: vários deputados e amigos de Lucas de fora da política. 
 
Em cada roda de conversa, os temas se repetiam. O futuro do Ministro Sergio Moro era o prato principal. Animados, senadores da oposição garantiam que em poucas horas explodiriam novas denúncias contra o titular da Justiça. A ala mais conservadora tinha outra opinião: “Com o que se tem hoje, não há risco de CPI,” sentenciavam. Tudo dependerá dos próximos vazamentos.
 
A presidente da CCJ, Simone Tebet, e Anastasia conversavam sobre a sessão da comissão desta quinta, que votará um PL que limita a edição de MPs pelo Presidente da República. A próxima semana no Congresso se vislumbrava fraca graças ao feriado de Corpus Christi, mas ganhou temperatura com o comparecimento de Moro na CCJ, marcado para o dia 19. 
 
Tomando um antiinflamatório, o senador pelo PSD da Bahia Otto Alencar relatava um problema na mão, fruto das décadas como cirurgião ortopédico, quando Joice Hasselmann chegou trazendo um espumante. 
 
Otto provocou a líder do Governo no Congresso:
 
“Já trouxe o Major Olimpio para a base do governo?” 
 
“É capaz do PT e PC do B aderirem antes,” devolveu Joice, trazendo a casa abaixo.
 
Alcolumbre circulava entre as rodas e, onde chegava, uma nova se formava. Depois de jantar, o presidente do Senado dirigiu-se a um corredor, que apelidou de “confessionário” para falar reservadamente com dois ou três senadores. Voltou à sala a tempo da sobremesa.    
 
Por volta das 22h30, um petit comitê foi para a escada de serviços fumar. Outros convidados se despediam. Eram quase 23h quando chegou o senador Randolfe Rodrigues, da Rede, completando o quadro de senadores do Amapá. Vinha de outro jantar com artistas e parlamentares. Na sala, os remanescentes ainda provavam os quitutes amazônicos.
 
“Foi assim que a gente elegeu o Davi”, Lucas me disse.
 
O grupo que derrotou Renan Calheiros começou a se formar logo após a eleição do ano passado. Lucas passou a frequentar Brasília, fazendo seus jantares na casa de futuros colegas, como o senador Wellington Fagundes.
 
“Fomos conversando, conhecendo e ganhando votos dos colegas. Hoje o Davi está aí, uma unanimidade”, disse. “Aqui no jantar não falamos das divergências. Cada um tem sua posição, mas todos temos um interesse comum, que é o país.”

Na República do Tucupi, velha ou nova, a política se faz à mesa.