Nos últimos dias, as ações da Raia Drogasil sofreram com a expectativa de que um bloco significativo de ações da companhia viria a mercado em breve: alguns investidores reduziram sua posição no papel esperando recomprá-la numa oferta.

Talvez tenham que esperar sentados.

“Não há intenção de venda estruturada de um lote; o que pode haver são pessoas físicas tomando decisões individuais e vendendo no pregão, de forma normal,” diz uma fonte com trânsito junto aos controladores.

A expectativa — ou torcida — para um ‘block trade’ tem a ver com o vencimento, em novembro, de mais uma parte do ‘lockup’ que impede os acionistas controladores — as famílias Pipponzi, Pires e Galvão e os três fundadores da Natura, Antonio Seabra, Guilherme Leal e Pedro Passos — de negociar livremente o papel.

Quando a Drogasil e a Raia se fundiram em agosto de 2011, os controladores vincularam 40% do capital da companhia a um lockup de 10 anos, mas estabeleceram que 10% do capital seriam liberados até o quinto aniversário do acordo, em 10 de novembro deste ano. (3% foram liberados no primeiro ano, o que permitiu à Gávea Investimentos, dona de metade daquele lote, vender sua posição. Mais 2% foram liberados em 2014.)

Hoje, os controladores têm 35% do capital da companhia ainda sujeitos ao lockup, e 4% livres para negociação.  A partir de novembro, mais 5% ficarão livres.

Em tese, isto significa que 9% do capital da companhia poderiam a mercado de uma vez — uma rara oportunidade de compra numa das empresas mais admiradas (e caras) da Bovespa.

No curto prazo e com um olho nos múltiplos, faria sentido para qualquer acionista botar algum dinheiro no bolso: a ação negocia a cerca de 33 vezes seu lucro estimado para os próximos 12 meses, fazendo uma Ambev parecer de graça.

Por outro lado, a Raia Drogasil está com um momentum operacional que é a inveja de qualquer setor da economia: depois de abrir 156 lojas ano passado, a empresa recentemente reviu sua projeção de novas lojas este ano de 165 para 200, e espera abrir mais 200 ano que vem. No último trimestre, a receita bruta subiu 26%, e as vendas nas mesmas lojas, 14,5%. A margem EBITDA está em 10,5%.

A execução tem sido tão perfeita, e o ritmo de abertura de lojas tão veloz, que o que parecia o ‘next big thing’ da companhia — a Farmasil, um formato de lojas voltado para a classe C — foi praticamente colocado na prateleira, com poucas novas lojas previstas para este ano e o próximo.

Como a Ambev no passado, a Raia Drogasil se tornou o papel justificadamente mais caro da Bovespa, mas aquela grande oportunidade de compra hoje parece mais um desejo do que realidade.