Um block trade discreto, negociado esta semana, sugere duas hipóteses: ou investidores da Kraft Heinz ligados à 3G Capital precisam de liquidez ou perderam a paciência com a tese de investimentos três anos depois da fusão da Kraft com a Heinz.

Por intermédio do Morgan Stanley, foram vendidas 20,6 milhões de ações ao preço de US$ 60 por ação. O lote representa pouco mais de 1,5% do capital da Heinz e equivale a 7% das ações em posse de veículos ligados à 3G.

O filing feito pela Kraft Heinz junto à SEC não deixa claro quem são os vendedores finais.

No documento, a empresa diz que o veículo 3G Global Food Holdings, ou 3G GFH – que concentra a participação do grupo na Kraft – transferiu ações para o veículo “HK3 18”.

O documento diz que a 3G não é a vendedora final, mas a transferência de ações de um veículo para outro deixa dúvidas sobre a identidade do vendedor e seu grau de envolvimento com a 3G.

“As ações vendidas na transação reportada não incluem ações relacionadas à participação original da 3G Capital Partners na 3GFH (ou indiretamente, na Kraft Heinz)”, disse a companhia. “O 3G GFH não tem qualquer plano ou intenção de vender ou transferir quaisquer ações adicionais”.

Uma hipótese com que o mercado trabalha: investidores brasileiros da 3G teriam pedido saque dos veículos de co-investimento, forçando a 3G a vender ações no mercado para lhes dar liquidez. Após a venda, a 3G ficou com 22% da companhia. (A Berkshire Hathaway, de Warren Buffett, é a maior acionista com 26,7% do capital).

O block trade vem após uma queda de 23% nas ações da Kraft desde o começo do ano, em meio ao ceticismo dos investidores quanto à capacidade da companhia de crescer de forma orgânica e com a demora em uma aquisição que pudesse agregar valor.

Os resultados do segundo trimestre, divulgados na sexta-feira, mostraram uma queda de 0,4% nas vendas contra um ano antes, no terceiro trimestre consecutivo de declínio. As vendas nos Estados Unidos já marcam seis trimestres de baixa e recuaram 1,9% frente ao mesmo trimestre do ano anterior.

Desde a tentativa frustrada de aquisição da Unilever, que levou a Kraft para a casa dos US$ 90 no começo do ano passado, a ação acumula queda de 35%.

 

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